Moradora de Juatuba pede retorno de transporte de ambulância para marido

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A rotina de Maria Abraão, moradora do bairro Serra Azul, tem sido marcada por angústia e preocupação com a saúde do marido. Aos 77 anos, David Abraão possui problemas pulmonares, cardíacos e respira com a ajuda de um cilindro de oxigênio. Devido a esse quadro delicado, por anos ele teve transporte exclusivo em ambulância, disponibilizado pela Prefeitura. No entanto, o serviço foi interrompido. “Ele tem uma saúde vulnerável e precisa de deslocamento constante para consultas médicas e exames em Belo Horizonte”, explica.

Maria relata que, por cerca de 14 anos, David foi transportado de forma segura e adequada por ambulâncias da prefeitura até hospitais e clínicas da capital mineira. Esse suporte era vital, dado o histórico grave de saúde do paciente. “Ele já passou por duas cirurgias pulmonares, tem baixa imunidade e qualquer exposição a vírus ou bactérias pode ser fatal”, diz preocupada.

Este ano, o atendimento individualizado foi descontinuado e, segundo Maria, David só foi levado por ambulância duas vezes. Desde então, as viagens são feitas em veículos compartilhados com outros pacientes que, segundo ela, expõe o idoso ao risco de infecção. “Ele operou os dois pulmões. Um carro com várias pessoas é um risco muito grande para ele. Eu tenho medo. Não é frescura. É medo real. O organismo dele não aguenta mais pegar infecção”, lamenta.

Maria reforça que tem feito inúmeras tentativas de conseguir a retomada do transporte exclusivo, mas sem sucesso. “Lá na prefeitura, ninguém resolve. A gente só fala com funcionários que ficam anotando protocolo. Eu já reclamei tantas vezes, e nada muda”, desabafa.

A luta por transporte adequado se soma às dificuldades já enfrentadas pela família com a saúde debilitada de David. Em abril, durante uma consulta na policlínica, os médicos detectaram uma alteração no peito e pediram uma série de exames, incluindo tomografia, espirometria e avaliação de saturação de oxigênio.

“Esses exames são frequentes. A espirometria, por exemplo, é a cada seis meses. Agora está tudo acumulado porque não consigo levar ele direito. É cansativo para ele e para mim também”, relata Maria, que também convive com dores crônicas causadas por fibromialgia. “Essas dores aumentam com a preocupação, o estresse. A gente sente que não tem apoio nenhum”, desabafa.

Com o carro compartilhado, o horário também ficou mais apertado para o casal. Maria precisa acordar às 3h30 para preparar tudo e estar pronta às 5h, quando o carro da prefeitura passa para buscar os pacientes.

“Quando era ambulância, ele ia mais confortável, com hora certa. Agora, vai num carro comum com todo mundo que couber. Não dá para aceitar isso. É um idoso doente. Isso não é dignidade”, afirma com indignação.

Além das questões de saúde, a moradora também aponta o abandono do próprio bairro. “Serra Azul não tem nada. Nem posto, nem médico, só buraco e água suja escorrendo pela rua. É uma vergonha”, critica.

Para ela, a interrupção do transporte exclusivo representa uma grave negligência com os mais vulneráveis. “Eles ficam gastando dinheiro com gasolina, com carro para coisas supérfluas, e nós aqui, com necessidade, esquecidos. Isso é um direito nosso. É o mínimo”, cobra.

Apesar do corte no serviço de ambulância particular, Maria agradece pelo fornecimento de oxigênio domiciliar, que, segundo ela, segue sendo entregue regularmente. Mas deixa claro que isso não compensa a falta de assistência no transporte.

“Graças a Deus o rapaz do oxigênio é atencioso. Mas no mais, estamos abandonados. Meu marido merece respeito. Eu também. Todos nós merecemos”, conclui.

Até o momento da publicação desta reportagem, a Prefeitura de Juatuba não respondeu aos questionamentos sobre a suspensão do transporte ambulância para o paciente.