Na semana em que comemorou mais um aniversário de emancipação política-administrativa e o comércio da cidade foi reaberto, Juatuba registrou o primeiro caso confirmado de contágio por Covid-19. Em publicação nas redes sociais, a Prefeitura informou que a paciente é uma mulher com menos de 60 anos e que está em isolamento domiciliar desde quando foi feita a notificação de suspeita da doença. Entretanto, a história não é bem assim. O Jornal de Juatuba e Mateus Leme conversou com a família da paciente, que tem passado por situações constrangedoras desde a divulgação feita pela comunicação do município. A administradora Kelly Mariane Back Valente, 37 anos, teve os primeiros sintomas da Covid-19 há quase um mês. No último fim de semana, após uma crise de tosse, ela decidiu, junto com o marido, ir até o Pronto Atendimento de Juatuba. No local, o médico de plantão receitou alguns medicamentos e a mandou de volta para a casa. Preocupado, o casal decidiu fazer um exame particular, mesmo sem a prescrição do médico.
Na terça-feira, 28, eles foram à Belo Horizonte e obtiveram o resultado do teste no mesmo dia. A análise apontou que Kelly teve a doença, mas já está imune. Assim que chegaram em Juatuba, eles levaram o resultado do exame até o Pronto Atendimento. “Os sintomas que tive ocorreram há mais de 35 dias e, na época, fiz isolamento por orientação da empresa na qual trabalho, ficando em home-office. Me recuperei apenas com remédios caseiros. O resultado do teste de farmácia apenas atestou minha imunidade, diferente do teste que indica o vírus. Quando apresentei o resultado do exame ao médico na policlínica, ele me liberou para voltar a ter uma vida normal, pois não estou mais com o vírus. Não houve orientação de isolamento, pelo contrário, o médico me felicitou pelo resultado do exame e declarou que eu e minha família estamos liberados de qualquer isolamento”, explicou Kelly.
No dia seguinte, para surpresa de todos, a Prefeitura fez a publicação nas redes sociais e a suspeita é que o nome da paciente vazou através de funcionários da unidade de saúde. “Instaurou-se um caos em minha vida. Eu, meu esposo, familiares e amigos, passamos o dia tendo que dar explicações por causa da publicação com informação errada da prefeitura. Neste momento, estamos sofrendo retaliações, assédios e calúnias indevidas, e pessoas ao nosso redor já começaram a ser prejudicadas como se oferecessem algum risco aos demais”, lamentou Kelly. Colegas de trabalho já relataram que familiares foram dispensados do emprego por terem tido contato com pessoas que trabalham com a administradora.
A Secretária de Saúde entrou em contato com o casal apenas na noite de quarta-feira, 29, e afirmou que uma nota de retratação seria feita nas redes da Prefeitura na manhã do dia seguinte. Não foi solicitada exame para contraprova, nem colhido material para teste pelo SUS, conforme tem sido o protocolo em outras cidades. “Meu número do celular está na ficha da policlínica, mas em momento algum fizeram contato comigo. Simplesmente divulgaram como quiseram, mesmo tendo acesso aos resultados do exame que eu mesma levei para eles”, ressaltou Kelly.
A família está em casa devido ao alarde criado no município e fotos do casal têm sido compartilhadas em grupos nas redes sociais. Até o fechamento desta edição, a Prefeitura não havia divulgado a atualização dos números da Covid-19 na cidade. O último boletim da pandemia publicado é do dia 22 de abril. Na ocasião, 85 casos suspeitos foram notificados e outros 25 descartados. As mulheres representavam cerca de 54% do total de notificações e a idade predominante era de 20 a 59 anos.
A doença e os sintomas
Kelly explica que teve quase todos os sintomas descritos da Covid-19. Ela descreve a sensação como se fosse uma mistura da dengue e uma gripe muito forte. Entre os sintomas, a administradora destaca as dores no corpo, ânsia de vômito, dor de cabeça, congestão nasal, muita tosse seca, sensação de cansaço e fadiga. Depois de alguns dias, ela começou a sentir dificuldade para respirar.
A administradora contou que teve uma crise de asma e, por isso procurou a policlínica. Em exame, foram identificadas ranhuras e infiltração nos pulmões, mas que o dano já está sendo reparado pela medicação. Kelly afirma que é importante que todos saibam identificar os sintomas, para que providências sejam tomadas antes que a doença possa se agravar. Ela ressalta que a identificação da Covid-19 só foi possível pela iniciativa da família de pagar o exame particular.
Verba para combate à pandemia O Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde, liberou verba emergencial para as cidades se estruturarem para o combate e prevenção à pandemia de Covid-19. Os repasses têm chegado gradativamente aos cofres dos municípios. Até o dia 24 de abril, quase R$500 milhões já haviam sido enviados às cidades de Minas. De acordo com relatório da Secretaria de Estado de Governo, Juatuba já recebeu o total de R$369.885,52 do apoio financeiro em razão da emergência em saúde. A cidade tem sido alvo de críticas por parte da população e do Legislativo pela falta de ações consistentes de combate à pandemia. Enquanto isso, Mateus Leme recebeu R$597.657,44 da verba emergencial. O município que registra 122 pacientes suspeitos da doença, sendo 10 descartados, tem investido em medidas de estruturação como a compra de testes rápidos e a instalação de um hospital de campanha com capacidade para até 30 leitos.