Pneumologista fala da infecção do coronavírus, das sequelas da doença e rejeita o tratamento precoce do Kit Covid

1
639

O Jornal de Juatuba e Mateus Leme conversou com o médico pneumologista Jander Silva de Castro acerca da Covid-19 e da forma como o coronavírus ataca o sistema respiratório. Nessa entrevista exclusiva, que se encerrou numa grande aula sobre a doença, o médico também abordou as consequências da Covid-19, que se apresenta para a maioria das pessoas cercada de interrogações. Sua maior incidência no inverno, como outras patologias respiratórias e, por fim, a opinião do pneumologista acerca do propalado tratamento precoce contra a Covid, foram assuntos tratados nessa conversa virtual.

Coronavírus: o sistema respiratório é a porta de entrada

O vírus usa o sistema respiratório para entrar no corpo humano. As formas de infecção são a inalação de gotículas através do nariz e da boca, principalmente, e essas gotículas caem no nosso sistema respiratório. A infecção acontece primeiramente na região da garganta, causando irritação, depois vai até o pulmão onde se replica. O vírus entra dentro das células do nosso organismo e começa a se multiplicar. Ele usa através disso uma proteína que chama Enzima Conversora de Angiotensina2, ou ECA 2. Através da ECA 2 ele penetra a célula, vai se multiplicando e começa a infectar outros órgãos. Quando o vírus cai no nosso organismo o sistema de defesa vai tentar combatê-lo e nessa tendência, desencadeia um processo inflamatório, que é o que a gente chama de Cascata de Citocinas e esse processo inflamatório vai provocar uma inflamação muito grande no pulmão, no lugar que chama interstício. O interstício é como se fosse um cimento que liga os alvéolos. Os alvéolos são os locais onde a gente tem a troca gasosa, eles ligam um alvéolo no outro. Quando ele está inflamado ele fica mais grosso e dificulta a troca gasosa. É quando o paciente entra num processo de falta de ar, de cansaço, dispneia, fadiga, aí tem que ser intubado ou ele vem a falecer. Então, resumindo, o vírus entra no nosso organismo pelo sistema respiratório, principalmente, nariz ou boca. Se multiplica dentro do pulmão. O organismo tentando se defender contra esse vírus desencadeia um processo inflamatório intenso, que é a cascata de citocinas. Em algumas pessoas esse processo inflamatório vai levar a insuficiência respiratória podendo causar a morte.

Ao combater o vírus o organismo cai num processo inflamatório

Na verdade, a gente está aprendendo ainda sobre esse vírus. Cada hora sai alguma coisa nova. Então, o que a gente sabe é isso, o vírus se multiplica muito e como nosso organismo… a grande maioria das pessoas ainda não tinha tido contato com o coronavírus, o organismo vai tentar combater esse vírus que para ele é diferente e gera esse processo inflamatório intenso. A gente sabe hoje que esse processo inflamatório e a infecção pelo vírus podem atacar várias partes do nosso corpo, especialmente o pulmão. Pode causar inflamação no coração, pode causar inflamação no fígado, pode causar no rim, no cérebro. A gente sabe, por exemplo, que pode causar insuficiência renal, a pessoa pode parar de urinar, o rim para de funcionar, falta de ar, cansaço por causa da inflamação no pulmão. E também a falta de ar e o cansaço, que são causados pela inflamação no coração, chamado de miocardite. Tem aumentado casos de pessoas queixarem canseira intensa, perda de memória, insônia, confusão mental, aumento do grau de depressão, causado pela inflamação no cérebro; pode causar um acidente vascular cerebral, que é o famoso derrame.

Então, dependendo de onde o vírus ataca, pode o paciente ser acometido por várias doenças meses depois da infecção.

Covid-19: graves consequências após o tratamento da infecção

Uma coisa que tem nos causado preocupação é que esse vírus, além de atacar o sistema respiratório e nervoso, ele ataca muito o sistema cardiovascular, principalmente as veias e artérias e pode causar o que a gente chama de trombose, provocando uma embolia pulmonar, que muitas vezes pode levar o paciente a óbito ou uma trombose venosa, na perna, causando amputação, dificuldade para andar. Então, é um vírus que quando cai no organismo pode atacar diversos sistemas, não somente o respiratório, mas também o nervoso, hepático, urinário, cardiológico, as veias, as artérias e dependendo de onde atacar a pessoa poderá ter as consequências, ficar com sequelas. Vai depender muito de como o sistema de defesa da pessoa está funcionando, se ela tem ou não alguma doença crônica, hipertensão, diabetes, asma, problema renal. Quanto mais problemas de saúde crônicos ela tiver, mais chance ela terá em complicações depois da infecção.

No inverno a doença fica mais à vontade

Em relação ao inverno, a gente sabe que toda doença respiratória tende a ser pior neste período, primeiro porque os vírus gostam mais de reproduzir nessa época do ano, o ar está muito seco, o que favorece a propagação do vírus, além disso as pessoas tendem a ficar em lugares mais fechados. Por exemplo, as pessoas que andam de ônibus tendem a querer fechar as janelas e todos que ali estão ficam sem uma circulação de ar adequada. Também lojas, restaurantes querem a manter portas e janelas fechadas, com isso, nesses locais com menos ventilação, as chances de você propagar o vírus para outra pessoa são maiores. E como eu disse, no inverno o vírus tende a se propagar mais por causa do ar seco.

O tratamento precoce com o kit covid em vez de melhorar, atrapalha

A gente tem que tomar cuidado pelo seguinte, todo tratamento deve ser feito. O que se debate hoje é um kit que foi proposto para o tratamento precoce, feito com hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e algumas vitaminas. É o seguinte, o tratamento precoce deve ser feito, o paciente tem que procurar o médico o mais rápido possível e esse médico vai prescrever os remédios que ele acha adequado. Agora se você me perguntar o que eu, Dr. Jander, acha do kit contra a Covid, que é o uso de ivermectina, hidroxicloroquina, azitromicina, estão dando agora um remédio que é anti-testosterona, sem nenhuma comprovação científica, colchicina, particularmente sou contra. A gente tem diversos estudos que falam que essas medicações não resolvem o problema. Elas não diminuem a incidência, não diminuem o número de paciente grave, não diminuem a mortalidade. Até pelo contrário, têm alguns estudos que mostram que pacientes que fazem uso dessas medicações tendem a piorar, quando vão para o CTI, estão num quadro mais grave do que aqueles que não usaram o kit. Particularmente eu sou contra, acho que tem outras coisas que podemos fazer pelo paciente para poder melhorar, além disso os efeitos colaterais desse kit podem ser muito intensos. Não são todos, mas muitos casos de diarreia, vômito, dor abdominal, desidratação, arritmia cardíaca. Tem mais, você comprar o kit numa farmácia é uma grana violenta. E, por fim, o que os estudos têm mostrado é que a pessoa tomando o kit ou não tomando, não diminuiu a gravidade da doença, não diminuiu o número de pacientes no hospital, não diminuiu a mortalidade. Infelizmente essas drogas aí preconizadas no kit Covid não funcionam da forma que gostaríamos.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

20 + 7 =