Reiner nasceu sem os braços, mas isso não o impediu de entrar no universo dos e-sports e hoje ele integra uma equipe nacional
É possível que muita gente ainda não tenha ouvido falar dos e-sports. Mais do que jogos de videogame, eles têm movimentado milhões em campeonatos em todo o mundo e ganhado adeptos de todas as idades. Em 2019, no mundo todo, o número de espectadores de campeonatos de jogos eletrônicos foi de 453,8 milhões, um crescimento de 16,3% em um ano. Juatuba tem um desses jogadores. Reiner Jesus Martins, conhecido no game como Raiden, é jogador de Free Fire há dois anos e atualmente faz parte da equipe Allbank eSports. O adolescente de 13 anos conheceu o jogo através de um primo e aos poucos foi entrando nesse universo. Mas, além da habilidade como jogador, Reiner também chama a atenção por jogar usando os pés.
Desde pequeno, ele é inspiração e exemplo de superação pois nasceu com uma anomalia congênita chamada Agenesia dos membros superiores, por isso ele não tem os braços. Com o passar dos anos e muita força de vontade, Reiner foi se adaptando, aprendendo e não deixou que a falta dos membros o impedisse de fazer as atividades que gosta. Aos quatro anos, ele foi notícia aqui no JORNAL DE JUATUBA E MATEUS LEME pois treinava jiu-jitsu em uma equipe da cidade. Hoje, como conta a mãe Kátia Cecília da Silva, o menino joga futebol, também em um time juatubense, e participa de competições na região.
Desde os anos iniciais, ele estuda na Escola Municipal Maria Cândida de Jesus, em Francelinos. Cursando o 8º ano do ensino fundamental, Reiner tem uma carteira adaptada, na qual consegue sentar de forma confortável e escrever, o que também desenvolveu por meio dos pés. Além disso, ele tem mobilidade para pegar os materiais e executar as tarefas com autonomia.
Para superar os obstáculos que por ventura surjam, ele faz diversos tratamentos como hipoterapia, hidroterapia e terapia ocupacional, que o ajudam a trabalhar as dificuldades do dia a dia e buscar independência. “Eu não tenho tanta dificuldade para escrever, pois desde bebê trabalho isso em minhas terapias, então para mim é tranquilo. Já estou tão acostumado, que se você me perguntar como eu aprendi a escrever, eu não sei dizer! É claro que minha caligrafia vai mudando aos poucos e trabalho outros tipos de letra”, explicou Reiner.
Há alguns meses ele criou uma conta no Instagram para divulgar as partidas e já tem quase 55 mil seguidores. Foi a partir daí que ganhou destaque e começou a ser convidado a participar de equipes maiores. “No início, quando comecei a jogar foi muito difícil me acostumar com os controles do jogo, porque com os pés eu tinha que acostumar com o jeito do próprio celular. Mas, por incrível que pareça, apesar das dificuldades, eu não sofri com comentários de que eu não iria chegar onde eu cheguei. Todo mundo que eu conheço sempre elogia minha perseverança e me ajuda a evoluir cada dia mais”, comenta o jogador.
Sobre o futuro, o adolescente afirma que sonha em avançar no mundo dos jogos, mas não descarta outras possibilidades. “Eu tenho vontade de crescer como gamer, disputar campeonatos como a Copa Free Fire e ser mais reconhecido no cenário competitivo mas, se eu não conseguir, quero seguir meus estudos e fazer uma boa faculdade”, conta.
Kátia apoia o filho, mas toma certos cuidados para evitar que ele mergulhe demais no universo virtual e esqueça de viver experiências reais. Ela sempre lembra que o conhecimento é muito importante e que reconhecimento não é tudo, é preciso ter também liberdade para fazer suas próprias escolhas. “Eu quero que ele seja destaque sim, mas que tenha primeiro uma base de conhecimento e de estudo, espiritual e familiar. Ele quer se destacar agora? Sim, mas que isso não seja o ponto principal da vida dele. Espero que tudo que ele faça seja com amor, com carinho, e que ele encontre realização nisso”, destaca a mãe.