Associação Bakise Mona Ixi é declarada de Utilidade Pública em Mateus Leme

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Em uma sessão marcada por emoção, reconhecimento e aplausos, a Câmara Municipal de Mateus Leme aprovou, na última reunião, o Projeto de Lei nº 19, de autoria do vereador Wellington Batata, que declara de utilidade pública a Associação Cultural e Tradicional de Matriz Africana Bakise Mona Ixi. De acordo com o texto, com o projeto, a entidade passa a ter segurança jurídica e acesso facilitado a políticas públicas, convênios e editais que poderão fortalecer ainda mais o seu papel na comunidade local.

A justificativa apresentada pelo autor, destacou que o trabalho desenvolvido pela associação já é de conhecimento público, especialmente nas áreas de assistência social, cultura e educação. “Esse reconhecimento não traz gastos aos cofres públicos, mas sim valoriza uma entidade que atua onde muitas vezes o poder público não consegue chegar”, afirmou Batata.

O que é o Bakise Mona Ixi?

Atualmente localizada no bairro Jardim das Mangabeiras, a entidade atua há anos com atividades culturais, espirituais, sociais e educacionais, atendendo uma média de 80 pessoas entre frequentadores regulares, assistidos em ações pontuais e participantes de projetos culturais. A aprovação do projeto é, segundo seus líderes e apoiadores, “um marco histórico de valorização da cultura de matriz africana em Mateus Leme”.

Durante a sessão, antes da votação, o vereador Batata pediu que os representantes da entidade explicassem no plenário da Casa Legislativa, o trabalho da instituição e a relevância para a sociedade.

Pai Ximeango, acompanhado do Pai Pequeno Kasuteme emocionou o plenário ao relatar a história e a missão do Bakise Mona Ixi.

“O terreiro é o quilombo urbano do nosso tempo. Assim como os quilombos acolhiam pessoas marginalizadas na época da escravidão, hoje acolhemos quem vive à margem da sociedade: pessoas em situação de violência, LGBTQIAPN+, PCDs, autistas, egressos do sistema penal. Somos um ponto de resistência, de amparo e de reconstrução”, afirmou.

Segundo ele, a associação é procurada por moradores de diversos bairros, não apenas do Mangabeiras. “Temos projetos de entrega de cestas básicas, oficinas de artesanato, atividades de cultura afro-brasileira e rodas de conversa. Nosso espaço é aberto, plural e inclusivo. Todos são bem-vindos”, reforçou.

Segundo Pai Ximeango, líder espiritual do local, a Associação Bakise Mona Ixi é mais do que um espaço religioso.  Fundada com base na espiritualidade de matriz africana, a entidade se consolidou como um centro de acolhimento e transformação social, com ações voltadas à inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade, promoção de atividades culturais e desenvolvimento de projetos de geração de renda.

Segundo ele, a entidade não se limita às atividades religiosas. “Nossa casa não é apenas um terreiro, é uma associação com atuação direta no campo social. Receber esse reconhecimento é fundamental, pois nos permite ampliar nosso alcance e reforça a legitimidade do nosso trabalho”, declarou.

Como parte de sua missão, o Bakise Mona Ixi atua em frentes que visam promover a autonomia financeira e o empoderamento de seus frequentadores, especialmente mulheres e jovens da periferia.

Com oficinas de biojoias, turbantes, costura, culinária e outras práticas culturais afro-brasileiras, a entidade possibilita que seus participantes encontrem uma fonte de renda e desenvolvam autoestima e pertencimento.

“A nossa cultura é também uma economia criativa. Os saberes ancestrais têm valor social e econômico, e nós utilizamos isso para resgatar pessoas do abandono, da invisibilidade. A declaração de utilidade pública nos permite buscar apoio para ampliar ainda mais essas ações”, explicou Kasuteme. 

Representatividade

Os representantes também ressaltaram os desafios enfrentados pela entidade, principalmente em relação ao preconceito religioso e à desinformação sobre as tradições de matriz africana. “Nossa espiritualidade ainda é vista com desconfiança, com medo, com intolerância. O reconhecimento de utilidade pública ajuda a quebrar essas barreiras. Mostra que estamos aqui para construir, acolher e contribuir com a cidade”, afirmou Pai Ximeango.

Ele também destacou a importância de iniciativas como essa para o combate à intolerância religiosa: “A partir do momento que o poder público reconhece uma casa de matriz africana como de utilidade pública, ele está também dando um recado à sociedade: todos têm direito ao espaço, à fé, à cultura e ao respeito.”

Em conversa com o Jornal de Juatuba e Mateus Leme, Pai Ximeango comemorou.

“Essa certificação é também um símbolo de respeito à nossa história, à nossa ancestralidade, ao impacto que geramos na comunidade. Para nós, é a garantia de que seguiremos firmes na missão de cuidar, acolher e transformar vidas”, declarou.

Ainda de acordo com ele, o reconhecimento de utilidade pública representa um marco para a cultura africana no município. “Essa certificação é também um símbolo de respeito à nossa história, à nossa espiritualidade e ao impacto que geramos em nossa comunidade. Para nós, é a garantia de que seguiremos firmes na missão ancestral e social de cuidar, acolher e transformar vidas”, finalizou.