Cemig vai fechar agências em Juatuba e Mateus Leme

Companhia prevê fechamento de 54 unidades no Estado e decisão é vista como antecipação para a privatização

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Imagine você ter que pegar um ônibus e se deslocar para a capital, para conseguir resolver algum problema na sua conta de energia ou solicitar algum serviço? Esta é a situação que os Juatubenses e Mateus Lemenses terão que enfrentar com a decisão da Companhia Energética de Minas Gerais de encerrar as atividades de 54 agências no estado.

Em Lima Duarte, na Zona da Mata, o serviço já foi fechado. Guanhães, Vargem da Palma, Carmo do Cajuru, Corinto e outros cinco municípios estão em processo de encerramento das atividades da Companhia. Além dessas cidades, Juatuba, Mateus Leme e outras 42 estão listadas para serem extintas.

José Márcio Nogueira, morador do bairro Satélite, em Juatuba, explica que com o fim do atendimento na cidade, os consumidores terão que se deslocar para Itaúna ou Betim para conseguir atendimento.

“Será uma perda e um desrespeito enorme com toda a população. Além da distância, o custo para se deslocar é grande e fica impossível o acesso para quem é de baixa renda. Isso é lamentável e uma total falta de respeito com o consumidor”, disse revoltado.

Emerson Andrada, coordenador do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais, afirma que nos últimos anos a gestão da Cemig tem encerrado praticamente todas as agências localizadas em cidades de pequeno e médio porte. Como alternativa, além do remanejamento para cidades vizinhas, a empresa também propõe que nas cidades onde o serviço foi extinto comerciantes atuem como “representantes autorizados” da Cemig.

Na avaliação do sindicalista, a decisão é mais uma medida para gerar lucro aos acionistas, pois barateia os custos da empresa. Na contramão, para o consumidor, além da piora no atendimento, a ausência de uma agência da Cemig também simbolizará para os consumidores uma empresa distante e sem preocupação com seus clientes.

Cenário caótico na zona rural

Vagner Morais, morador Serra Azul, em Mateus Leme, teme as dificuldades, pois com a agência na cidade, já é difícil o atendimento, pois alguns serviços da Cemig só são ofertados via internet. “Em períodos chuvosos a situação fica desesperadora para quem produz leite, por exemplo. Os produtores não conseguem se cadastrar na internet para fazer solicitação de restabelecimento da energia, porque não conseguem acesso à internet nem ao telefone. É lamentável”, relata.

O morador explica que com o encerramento da agência, a situação irá se agravar. Isto porque a cidade mais próxima para atendimento presencial, Itaúna, está há cerca de 25 km de distância.

Trabalhadores sobrecarregados

Com o encerramento das atividades, os funcionários de outras agências e serviços, como call center, ficarão sobrecarregados. Emerson Andrada explica que há relatos de trabalhadores que atuam em municípios que não contam mais com agência, sendo abordados por moradores insatisfeitos. “Muitas vezes o eletricista vai restabelecer o serviço na região e os moradores abordam esse trabalhador para tirar dúvidas sobre outras demandas”, conta.

Além disso, o sindicalista pontua que sem oportunidade na Cemig, a expertise dos trabalhadores que atuavam nas agências é desperdiçada. “Como é um treinamento muito especializado e não tendo outras empresas a oferecer esse mesmo tipo de serviço, o trabalhador fica sem ter onde praticar esse conhecimento, tendo que se reinserir em outra atividade no mercado”, exemplifica.

Com serviço ruim concessão fica em risco

Até mesmo na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o fechamento de agências gera transtornos aos consumidores. Em 2019, a Cemig encerrou as atividades da agência do bairro São Gabriel, região noroeste de BH, que funcionava há mais de 30 anos.

Como resultado, além dos moradores do território, consumidores de onze municípios da RMBH, como Taquaraçu de Minas e Jaboticatubas, que eram atendidos na agência, também foram prejudicados. O principal impacto foi a morosidade no atendimento às demandas dos consumidores, tema que motivou inclusive uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Outro lado

Questionada pela reportagem sobre o motivo para o encerramento das atividades nas agências em questão, a Cemig não explicou a decisão para o encerramento dos serviços, mas pontou por meio de nota que “vem conduzindo em toda a sua área de concessão um projeto que visa transformar o processo de atendimento presencial aos seus clientes em diversos municípios, a partir do qual os atendimentos serão prestados em parceria com um estabelecimento comercial do munícipio, e não mais pela Agência de Atendimento”, esclarece.

Sobre as soluções ofertadas aos consumidores diante da mudança, a companhia afirma que “nenhum cliente terá que se deslocar para receber atendimento presencial. Trata-se apenas de mudança na forma de atendimento presencial” e que a Cemig continuará prestando atendimento presencial aos seus clientes “garantindo a estrutura de atendimento oferecida hoje nas Agências de Atendimento, composta por 1 (um) atendente e 1 (um) totem de autoatendimento, por meio de um parceiro devidamente treinado”, afirmam em documento. Já sobre a situação dos trabalhadores que atuavam nestas agências, a Cemig informou que os mesmos estão sendo remanejados.