Mais do que ser eleitor e escolher seus representantes, compete ao cidadão acompanhar o que está sendo executado no município. Ele tem o direito de denunciar irregularidades e fiscalizar a prestação de serviços públicos. Porém, este direito não foi dado a Raimunda Nogueira de Oliveira, conhecida carinhosamente como “Dona Fia”, essa semana. Em relato à reportagem, ela contou que mora ao lado da creche Arlete Oliveira Duarte Saraiva, e que constantemente ouvia choros agonizantes de uma criança. Preocupada, foi até as dependências do educandário para saber o que estava ocorrendo.
Quando adentrou no local, Dona Fia alega que uma das professoras da unidade a levou até a diretoria e depois até o berçário onde a criança estava chorando.
Ao notar que a criança havia parado de chorar no momento da visita, dona Fia foi embora, mas foi abordada pela Polícia Militar. Os militares alegaram que ela havia sido denunciada por invadir a creche sem permissão e dona Fia ficou detida na delegacia, segundo ela, por “cerca de seis horas”.
Em um boletim de ocorrência, a Secretária de Educação, Denise Reis Navarro, alegou que a senhora estaria atentando contra serviços de utilidade pública”. Já na versão das professoras, dona Fia “invadiu o educandário”, estando bem alterada.
Ao Jornal de Juatuba e Mateus Leme, dona Fia disse que não será covarde e conivente com o que acha ser errado e que continuará lutando para melhora dos atendimentos públicos, principalmente na creche que está localizada no fundo de sua residência.
“Tenho certeza que tive meus direitos violados, fui constrangida e coagida, simplesmente por tentar fiscalizar atos públicos em uma instituição municipal. Mas vou continuar a fiscalizar, seja qual for o equipamento público. Sou brasileira, mineira e juatubense, forte por natureza. O choro não dura para sempre, estamos aqui só de passagem”, finalizou.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar de Juatuba para saber o motivo da prisão de Dona Fia, no entanto a PM não respondeu a nossa solicitação até o fechamento da edição.
Perseguição
Essa não é a primeira vez que Dona Raimunda tem problemas com a Polícia. Em 2021, ela compartilhou diversos áudios em grupos de WhatsApp, afirmando que “algo não estaria cheirando bem na contratação de caminhão limpa fossa”, já que os recursos são de R$100 mil por mês, ou seja, R$25 mil por semana, o que significa R$5 mil por dia útil, para a coleta dos resíduos.
Na época, a comerciante foi surpreendida com uma convocação que solicitava que ela fosse até a delegacia de polícia de Juatuba para prestar esclarecimentos acerca dos comentários e cobranças feitas nas redes sociais. Durante o depoimento, dona Fia foi informada que havia sido convocada à delegacia por estar sendo investigada por um suposto crime de calúnia e difamação contra integrantes do governo Adônis.
Em conversa com o Jornal, a comerciante confirmou que fez os questionamentos, mas não cometeu qualquer ato de calúnia ou difamação, e que na verdade estaria exercendo apenas sua atribuição de cidadã e filiada à entidade Agentes Voluntários do Brasil – órgão fiscalizador de atos do executivo e legislativo.