Em meio aos recordes históricos de temperatura, devido à onda de calor que está castigando todo o país, nove cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte estão sem água. Os municípios de Mateus Leme, Esmeraldas, Igarapé, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Vespasiano são os mais afetados, já que são cidades que ficam longe do sistema de abastecimento. Somados, as cidades têm quase um milhão de habitantes.
Segundo a Copasa, o problema foi ocasionado pelo aumento do consumo. “Devido aos recordes de temperatura que vêm sendo registradas nos últimos dias em Belo Horizonte e Região Metropolitana, o consumo de água pela população aumentou em média 20% e está provocando intermitências no abastecimento em algumas regiões”, disse a Copasa em nota.
A empresa afirma que, apesar de o sistema de produção operar ao máximo e com os reservatórios que compõem o Paraopeba – responsável pelo abastecimento da Grande BH, em mais de 70%, a elevação brusca do uso de água devido aos recordes de temperatura pode interromper o fornecimento.
De acordo com alguns moradores de Mateus Leme, uma das maiores justificativas dadas pela Copasa é o alto consumo, no entanto não é apresentado nenhum projeto para maior capacidade de abastecimento e distribuição. “Buscamos a resposta várias vezes e eles dizem que o problema é devido ao alto consumo. Só que não têm uma solução”, disse um morador de Serra Azul.
A cabeleireira Maria de Lourdes afirmou que o desabastecimento tem afetado sua única fonte de renda. “Desde sexta-feira eu não consigo atender minhas clientes, ou seja, o meu trabalho está parado, as contas, com certeza, vão ficar sem pagar por que sem trabalho a gente não tem como pagar”, disse.
“Persiste há anos”
Embora a Copasa tenha comunicado a falta devido ao alto consumo, os mateus-lemenses criticam que o problema é recorrente, e que vem antes mesmo da onda de calor. Um exemplo é a situação de calamidade dos bairros Atalaia, Coqueiral, Tiradentes e Paraíso que se arrasta há 30 anos. Falta água, esgoto, pavimentação e o mínimo de infraestrutura para centenas de famílias que vivem em situação de extrema dificuldade.
Diversos moradores se cansaram de denunciar situações extremas em que crianças e idosos ficam sem água por quase 30 dias e são obrigados a utilizar e beber água imprópria para o consumo, de uma lagoa da região. Nos últimos dias, alguns integrantes da comunidade relataram que ficaram 33 dias sem água, que é distribuída apenas através de caminhão pipa pela prefeitura.
CPI não adiantou
Em agosto de 2022, a CPI da Copasa em Mateus Leme concluiu que o contrato entre a concessionária e o município não estava sendo cumprido e que a Companhia deveria retomar obras de distribuição da rede de água e esgoto em 10 dias, e finalizá-las em um prazo limite de 100 dias, sob pena de pagamento de multa diária no valor de R$100 mil. No entanto, a administração não cobrou as providências e nem a multa. Ou seja, ficou tudo como sempre foi e a CPI terminou em pizza.
Nos últimos dias, falta constante de água têm sido relatadas no Centro, Mangabeiras, João Paulo II, Bom Jesus, Santa Clara, na zona rural e nos distritos de Serra Azul e Azurita.
Alerta
Outra justificativa da Copasa para a falta de água é em relação às ligações clandestinas. O furto de água das redes da companhia impacta diretamente a qualidade do serviço, uma vez que os chamados “gatos” retiram pressão do sistema ao retirar água das redes de maneira ilegal e podem reduzir a oferta de água em algumas regiões.
A Copasa informa ainda que está monitorando o cenário de abastecimento da Grande BH ininterruptamente e que equipes operacionais estão fazendo manobras para garantir o abastecimento de todas as regiões e auxiliar na normalização do abastecimento o mais breve possível.
No entanto, a companhia orienta que a população evite o desperdício e reforça a recomendação do uso consciente da água, principalmente para os clientes de imóveis localizados nas partes baixas das cidades da região metropolitana e que se encontram abastecidos, para que outros pontos também possam ser atendidos normalmente.
Calor extremo
Nesta semana, Belo Horizonte teve três recordes consecutivos de temperatura registrada em um mês de novembro. O último foi na tarde de terça-feira (14), quando os termômetros marcaram 37,9ºC. Também nos últimos dias, mais de 300 peixes mortos foram retirados da Lagoa da Pampulha. Segundo a prefeitura, a mortandade dos animais está relacionada ao calor extremo e baixa umidade.
A previsão do tempo indica que o “calorão” não deve dar trégua, com possibilidade de novos recordes até a próxima semana. Segundo a Defesa Civil, uma massa de ar seco e quente provoca a ocorrência de onda de calor, baixa umidade do ar e temperaturas superiores a 32ºC, principalmente no período da tarde.
Moradores de Juatuba reclamam que também estão sem água
Moradores do bairro Cidade Nova I e II, Cidade Satélite, Boa Vista e Canaã reclamam que também estão ficando constantemente sem água e, apesar de já terem entrado em contato com a Copasa, não houve solução para o problema.
De acordo com a população, chega a faltar água nestes bairros por até sete dias. À reportagem, eles alegam ainda que quando a água chega, vem pouco e escura. “Impossível filtrar e muito menos consumir para tomar banho. Estamos desesperados e a Copasa somente fala que está solucionado a questão, porém nada normaliza. Esse problema persiste há anos”, relatou uma moradora do Cidade Nova II.
Segundo os juatubenses, já foram feitas denúncias ao Ministério Público e a CPI sobre o problema do abastecimento de água no município não rendeu nenhuma solução. “O prefeito não toma atitude e quando a Copasa quer protelar tal problema, passa o mel na boca dos políticos, fazendo algumas poucas obras”, afirma uma moradora do Satélite.