Ex-servidor denuncia perseguição política e que cultura “está deixando a desejar em Juatuba”

“Não estou aqui pedindo misericórdia para ter meu emprego de volta. Estou aqui solicitando que nossa cultura seja respeitada. Esta semana, 30 alunos da capoeira ficaram na rua, esperando um transporte que foi cortado pela secretária de Esportes”

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A reunião da Câmara começou diferente esta semana. Durante a leitura da pauta, alunos da capoeira e lideranças religiosas da Matriz Africana mostraram porque estavam em plenário: cantaram e fizeram preces à Nossa Senhora Aparecida, para que as comunidades fossem ouvidas.

A manifestação foi liderada pelo ex-gerente de cultura, Marcos Rodrigues, conhecido como “Mestre Guerreiro” que, quando estava à frente do cargo, atuava junto ao Congado, às comunidades negras e à capoeira no município.

Ocupando a tribuna do Legislativo, Mestre Guerreiro afirmou que acredita ter sido exonerado por “perseguição política”, porque teve que se ausentar do trabalho por um dia, por ter feito um procedimento dentário. “Um servidor não pode ir ao dentista: se ele for, pode ser exonerado. Mas Deus abençoe a vida da Secretária de Esportes e a cultura do município”, disse, se referindo à filha do prefeito Adônis, que assumiu recentemente a pasta e foi responsável pela exoneração.

“Quem agora está indo nos terreiros, nas roças e dando assistência à essas pessoas, para acompanhar pelo menos o trabalho que estão fazendo? Quando eu entrei no governo, chorei lágrimas de sangue para conseguirmos implementar a Lei Aldir Blanc e, mesmo assim, não os recursos não foram bem utilizados e parte do valor voltou para o governo”, afirmou.

O ex-servidor cobrou o transporte público gratuito para os congadeiros e atletas da capoeira, que participam de atividades culturais fora do município. “Estamos aqui reivindicando o que sempre foi feito quando estive como servidor. Estamos fazendo isso sem guerra e de forma ordeira. A cultura do município acordou e se precisar, vamos fazer rodas de capoeira na porta da prefeitura e dentro da secretaria”, avisou.

Mestre Guerreiro criticou ainda o desempenho cultural do município pois, segundo ele, o que é feito hoje são apenas festividades, como o Juafolia e aniversário da cidade, com programações que estão longe de fazer parte da essência da cultura local.

“Não nos deixe voltar à época da chibata, onde as nossas atividades culturais eram reprimidas. Não estou aqui pedindo misericórdia para ter meu emprego de volta. Eu não sou político e não vivo da política. Eu quero representatividade; estou aqui solicitando que nossa cultura seja respeitada. A cultura não pode acabar; entram algumas pessoas e saem outras, mas ela tem que continuar”.

Indignado, Guerreiro disse que esta semana, 30 alunos da capoeira ficaram na rua, esperando por transporte para ir a um evento em outra cidade, que foi cortado pela secretária de Esportes. “A gente quer que acabe essa perseguição. Vocês, vereadores não são a maioria do prefeito, mas a maioria do povo”, finalizou.

“Nós vamos cobrar”

Em resposta à fala de Guerreiro, o presidente da Câmara, Laécio do Silvestre, afirmou não poder entrar no mérito da exoneração, devido à legislação, que garante à prefeitura a livre exoneração e nomeação para cargos comissionados. No entanto, afirmou que “a Câmara continuará cobrando que a cultura aconteça na cidade”.

Já o líder do prefeito, vereador Jurandir dos Santos, disse que a cultura não vai acabar e que ela “continuará a ser desenvolvida, como sempre foi. “Vamos continuar investindo na capoeira e este será um investimento constante que iremos cobrar. Se estão deixando de mandar o transporte para a cultura, a gente vai cobrar para que isso não aconteça, porque independentemente de sua presença ou não, a cultura tem que continuar”, completou Jurandir.

O líder do prefeito aproveitou para noticiar que além da feira livre implementada no Distrito de Francelinos, o município em breve instalará uma feira livre no Distrito de Boa Vista. “Peço a todos que visitem as feiras e consumam alimentos, comprem os artesanatos de forma a ajudar o comércio local”.

“Não só com fins políticos”

O vereador Ted Saliba, afirmou que a cultura deve funcionar independentemente de fins políticos. “Vê-se muito aqui na cidade a seguinte questão: se fulano estiver junto é atendido, se não estiver no grupo, não será atendido. A gente espera que nosso município realize um trabalho, independentemente de quem esteja no poder ou qualquer solicitação política. Sabemos da dificuldade da capoeira, principalmente na AMADEC, que toda vez que solicita, encontra dificuldades com relação ao transporte”, revela.

Ted ressaltou também a falta de apoio à Banda Municipal, que recebeu recursos através do deputado Inácio Franco, a seu pedido e do vereador Léo da Padaria. “Na época conseguimos, com muito esforço, recursos para a compra de novos instrumentos, mas não vemos incentivo do município à atividade”, enfatizou Ted.

“Parceria com inciativa privada”

O vereador Léo da Padaria, que também é integrante do Conselho de Cultura do Município, informou que entre 2019 e 2021 o Estado distribuiu R$238 milhões em ICMS cultural e que 90% dos municípios mineiros foram contemplados.

“Quando não existe cultura na cidade, não existe ICMS Cultural. Eu levei esse assunto na última reunião do conselho e mostrei à consultora contratada pelo município. Quando mencionamos a banda de música, a capoeira e o terreiro, todas as atividades podem ser pagas e o município ser restituído pelo estado no ano seguinte. O que é investido na cultura é devolvido, saindo a custo zero. A gente deve procurar soluções e não empecilhos às atividades. Temos que buscar também parcerias com a inciativa privada e não depender só do público”.