Com o título “Coreografias do Impossível”, a 35ª Bienal de São Paulo que acontece até o dia 10 de dezembro, no Pavilhão Ciccílio Matarazzo, no Parque Ibirapuera, propõe uma reflexão sobre as formas de resistência e resiliência diante dos desafios do presente.
A mostra é organizada por um coletivo curatorial formado por Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, que propõem um convite às imaginações radicais a respeito do desconhecido ou mesmo do que se figura no marco das “im/possibilidades”.
Uma das características marcantes desta edição é a maior participação de artistas não brancos da história da Bienal, que reflete não só o compromisso dos curadores com a representatividade, como também um movimento natural no sentido de os grandes eventos de arte serem mais representativos dessas diversidades criativas. Segundo o grupo, um dos objetivos é “descolonizar o olhar sobre a arte e a cultura” e “ampliar o repertório de referências estéticas e políticas” do público.
Entre os 120 selecionados, a Bienal de São Paulo conta com a presença de 38 artistas brasileiros, entre eles sete mineiros, que levam para a mostra suas expressões artísticas diversas e contemporâneas. O fotógrafo e artista visual Eustáquio Neves, natural deJuatuba, é um dos selecionados. Ele constrói suas obras por meio de processos de experimentação com a linguagem da fotografia, utilizando camadas de sobreposições de imagens e procedimentos químicos. Suas narrativas discutem a sociedade e o lugar histórico da população negra como protagonista de sua própria história. Ele é autodidata e começou a fotografar aos 17 anos.
Na 35ª Bienal, ele apresenta duas séries. Em “Arturos”, o artista documenta um grupo familiar que rememora seu antepassado mais antigo, Artur, no município de Contagem. As fotografias retratam práticas baseadas no entrecruzamento do catolicismo com as religiões de matriz africana durante a celebração da festa de Nossa Senhora do Rosário, protetora das irmandades negras no Brasil Colônia.
Em “Encomendador de Almas”, produzido em diálogo com a comunidade quilombola do Córrego do Ausente, localizada próximo ao distrito de Milho Verde, na região do Vale do Jequitinhonha, a força pictórica dos negativos manipulados por Neves revela uma extensão do quilombismo ao reconstituir tempos e personagens em um jogo de resgate e transformações, próprias da manifestação espiralar da memória e do tempo.
O artista já teve trabalhos seus expostos em importantes espaços culturais, como o Museu Afro Brasil, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o 5º Rencontres de la Photographie Africaine, em Mali, e a 2ª Bienal do Tokyo Metropolitan Museum of Photography, no Japão. Ele também recebeu diversos prêmios e reconhecimentos, como o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte em 1994 e a Bolsa de Fotografia ZUM/IMS em 2019. Suas obras integram as coleções Pirelli/Masp, MAM-SP, Itaú Cultural, Museu Afro Brasil, entre outras.