Governo vai instalar câmeras nas escolas e profissionais alertam para invasão de privacidade nas salas de aula

Medida visa coibir violência de alunos contra professores e conter atos de vandalismo às instituições; profissionais da Educação dizem que “instalação vai invadir a privacidade”

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O governo de Minas vai implantar nas escolas da rede câmeras de segurança e a expectativa é que até o dia 30 de dezembro deste ano 3.444 das 3.543 instituições estejam com o sistema de monitoramento instalado. O funcionamento está previsto para o início de 2023 e tem como objetivo principal frear a escalada de violência nas escolas e coibir atos de vandalismo contra as instituições. A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais acredita que as câmeras de segurança nas escolas podem ajudar a evitar furtos e roubos, mas também contribuem para identificar autores de ameaças de massacres, destruições e ajudar no controle do acesso às dependências escolares.  

A medida foi anunciada poucos dias depois que ocorreu a violência de um jovem contra professores e alunos em duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, deixando quatro mortos e 12 feridos. Esta semana, duas escolas municipais de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, amanheceram destruídas e com frases fazendo referência ao nazismo.

Com base no anúncio do Governo do Estado, o Jornal de Juatuba e Mateus Leme questionou professores, diretores, autoridades e alunos, acerca das opiniões sobre a instalação de câmeras nas escolas.

Para a presidente Associação dos Trabalhadores em Educação de Mateus Leme, Queila Cristina de Assunção, a instalação de câmeras no ambiente externo das escolas vai beneficiar a comunidade local e também a comunidade escolar, de forma a evitar atos de violência e depredação próximo às unidades educacionais.

No entanto, Queila pontua que entre os profissionais da Educação o assunto é polêmico, principalmente acerca da instalação de câmeras no ambiente interno das escolas. “Dentro da escola temos que saber como vai ser, se teremos regras, quem terá acesso a essas filmagens e até onde vai expor os professores. A instalação na parte interna das escolas deve ser pensada e conversada com os profissionais que trabalham em cada unidade escolar”, opina.

Recém-eleito ao cargo de diretor da Escola Estadual Alvina Alcântara Fernandes, do Distrito de Serra Azul, Paulo Henrique Nogueira de Oliveira, que vai assumir o cargo no início de janeiro é professor do estado desde 2012. Mesmo sendo novato na direção escolar, Paulo carrega na bagagem 10 anos de educador, por isso se sente à vontade para opinar sobre a decisão do Governo do Estado. Segundo ele, a instalação das câmeras se faz necessário nos corredores, pátios e quadras e nas demais áreas sociais para a proteção dos alunos, dos profissionais e dos bens de valores das escolas. “Agora dentro de sala de aula e ambientes privados é mais complexo, pois tira a privacidade de alunos e professores. Mas também tem a parte boa, pois coíbe a violência dos alunos, a indisciplina e as práticas ilícitas dos estudantes; porém o assunto deve ser discutido”, explica.

Ainda de acordo com o educador, o governador não vai dialogar com o SindUte e muito menos com os profissionais da Educação. “Esse governo não dialoga, não discute; ele impõe, se ele achar que isso é bom, ele faz com autoridade. É o primeiro governo que não dialoga com os sindicatos”, finaliza Paulo.

Eriane Grigório, que é professora do município afirma que as câmeras nas escolas já é uma realidade em Mateus Leme, já que todas as escolas municipais contam com o monitoramento nas áreas externas. No entanto, a professora pontua que o caso é um verdadeiro dilema. De um lado as câmeras coibem ações criminosas e de violência, apontam suspeitos e esclarecem fatos. Por outro lado, se instaladas em salas de aula podem invadir a privacidade dos professores e alunos. “Talvez se houvesse uma discussão sobre os locais onde as câmeras devem ser instaladas, em cada escola, seria o ideal. Entretanto, hoje em dia é difícil pensar em invasão de privacidade quando usamos os nossos celulares. A exposição digital também é uma ameaça”, destaca.

Ainda de acordo com a professora, medidas devem ser tomadas para minimizar ou evitar ações violentas. “O mau comportamento e violência se combate com educação, e não com repressão e paliativos. Incentivar políticas públicas e educacionais para reduzir o bullying e agressões pode ser uma saída mais eficaz que frutificará na sociedade”.

“Solução é guarda patrimonial”

Em Juatuba, quem se manifestou acerca do assunto foi o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos, Sindserj, Geraldo Ricardo de Lima. O sindicalista afirma que o monitoramento nas áreas comuns das escolas é válido, mas quando instalado dentro das salas de aula estará invadindo a privacidade.

Segundo Geraldo, nenhuma escola, seja ela do estado ou do município conta com segurança e o sindicato já solicitou a instalação da guarda patrimonial ao município. “Já enviamos uma solicitação à prefeitura, mas nada foi feito até o momento. Eu espero que a contratação de guarda patrimonial possa ser uma diretriz empenhada ainda pelo Governo do Estado, para que sirva de exemplo aos municípios. Isso porque uma câmera não impede ação criminosa, apenas realiza a gravação do ato”, exclama.

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