Com apenas 15 anos, Aisha Felícia, moradora de Juatuba, tornou-se tricampeã mineira de taekwondo na categoria juvenil até 44 kg. A jovem atleta venceu as três etapas do Campeonato Mineiro de forma invicta — todas as lutas encerradas em apenas dois rounds.
Outra juatubense, também brilhou na competição. Giullya Veiga, também de 15 anos e colega de treino de Aisha, é outra promessa de Juatuba. Com apenas um ano de carreira, ela já brilha no cenário estadual com três pódios: um ouro e duas pratas.
A competição, realizada em três etapas desde janeiro, passou pelas cidades de João Monlevade, Ouro Branco e terminou no último final de semana, em Mariana, nos dias 24 e 25.
Falta de patrocínio
A trajetória de Aisha, que há 10 anos mora em Juatuba, para onde mudou como a família, é marcada por disciplina, talento e superação. Ela iniciou a carreira em Betim, onde treinava com o mestre Gabriel Sampaio desde a faixa branca. Este ano, ela começou a treinar no Instituto Ícaro Miguel, no bairro Francelinos, sob o comando do técnico Gabriel Oliveira, que já conhecia a atleta de outros circuitos.
“Treinamos desde fevereiro com foco total nesses campeonatos. Nosso objetivo é grande: conquistar vaga na Seleção Brasileira e chegar ao Grand Slam. Cada campeonato é um degrau para isso”, explica o treinador Gabriel. Estudante de Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa, ele também integra o projeto esportivo do Instituto Ícaro Miguel.
Apesar dos títulos e do alto desempenho, Aisha enfrenta um obstáculo comum a muitos atletas de base no Brasil: a falta de patrocínio. Mesmo convocada para competições como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, a atleta não pôde participar por falta de recursos. “Infelizmente, não conseguimos patrocínio, e não tínhamos condições financeiras para que ela fosse ao Brasileiro, mesmo com a convocação”, lamenta Bianca, mãe da atleta.
Hoje, Aisha conta com o apoio do Instituto Ícaro Miguel, que oferece estrutura para os treinos, e com uma ajuda mensal de R$ 200 vinda de um amigo da família. Bianca utiliza esse valor para investir em uma alimentação mais adequada, com suplementação e vitaminas. “Aisha possui seletividade alimentar e precisa de reforço proteico para manter o alto nível de desempenho físico”, conta a mãe.
Com esse desafio, a transferência para Juatuba foi muito positiva para minimizar o custo, já que treinar em Betim as despesas ficavam mais caras. “Aqui conseguimos manter os treinos, mas ainda é difícil arcar com alimentação, transporte e hospedagem para campeonatos em outras cidades”, comenta Bianca. Ainda assim, ela se mantém otimista com a nova administração municipal. “Acredito que o novo prefeito valorizará mais o esporte do que a gestão anterior”, afirma.
A próxima meta de Aisha é a Copa Regional Sudeste, marcada para os dias 11, 12 e 13 de julho, em Sete Lagoas. A preparação já começou, com treinos intensivos e foco em superar as dificuldades financeiras para conseguir participar da competição.
Seu sonho agora é representar Minas Gerais e o Brasil em competições nacionais e internacionais e, para isso, conta com apoio, seja patrocínio, doações ou divulgação. “O que mais precisamos agora é apoio para que ela possa competir fora de Juatuba. O talento ela já provou que tem”, finaliza.
Instituto Ícaro Miguel
O Instituto Ícaro Miguel, local onde Aisha e Giullya treinam, foi fundado por Ícaro Miguel, um dos maiores nomes do taekwondo nacional e morador de Juatuba. O espaço atende cerca de 100 alunos e oferece aulas gratuitas de artes marciais para jovens em situação de vulnerabilidade.
Ícaro, que em fevereiro deste ano conquistou pela 12ª vez a vaga como titular da Seleção Brasileira, representará o Brasil no Campeonato Mundial de Taekwondo em outubro, na China.
“A ideia do instituto é permitir que atletas se desenvolvam aqui mesmo, com qualidade e seriedade. É por isso que fui chamado para trabalhar com o grupo de competição”, explica Gabriel, treinador das atletas. “Nosso trabalho é voltado para a profissionalização do esporte em Juatuba, algo ainda raro no taekwondo brasileiro. Queremos mudar esse cenário, e atletas como a Aisha e a Giullya mostram que temos potencial para isso.”
