Juatuba promove audiência pública para debater violência contra mulher

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O brutal assassinato de Andreia Julião não apenas chocou a comunidade de Juatuba, mas também destacou a necessidade de buscar alternativas para conter os crescentes índices de violência contra a mulher no município. Amigos, familiares e associações regionais têm se mobilizado para cobrar soluções efetivas do poder público e, uma ação ações foi o pedido de audiência pública para denunciar a violência de gênero, apresentar reivindicações e cobrar políticas públicas para resolver o problema.

A audiência, presidida por Joelísia Feitosa, aconteceu na quarta-feira (22) na Câmara Municipal e atraiu diversas autoridades e cerca de 60 membros da comunidade, principalmente mulheres. Estiveram presentes o presidente da Câmara, Laécio do Silvestre, e os vereadores Marlene do Espetinho e Ted Saliba. Além dos parlamentares, a reunião contou com a presença da Dra. Daniela Bicalho Godoy, que representou a Coordenadoria Estadual da Defesa da Mulher e a Defensoria Pública de Minas Gerais. A delegada Dra. Raquel Gontijo, da Delegacia Especializada da Mulher de Juatuba, também participou, junto com representantes da Polícia Militar.

Comunidade apresenta propostas

De acordo com a organizadora, Joelísa Feitosa, a audiência teve o objetivo de buscar soluções integradas para a redução da violência doméstica em Juatuba, especialmente no bairro Satélite, onde Andreia Julião foi assassinada. “Esse bairro apresenta um dos maiores índices de violência doméstica e familiar na cidade, agravado pela vulnerabilidade social e econômica decorrente das atividades de mineração na região”, conta. 

Diante desse cenário, no ano passado, o MAB e a Comissão de Atingidos pelo Crime da Vale no Bairro Satélite já haviam encaminhado às autoridades do Judiciário uma proposta de combate à violência contra as mulheres. O documento pedia a criação e ampliação de uma rede de proteção para mulheres em situação de violência e o pedido foi reforçado durante a visita do Ministério Público ao município.

“Acreditamos que é preciso maior envolvimento e seriedade por parte dos órgãos de Justiça, que precisam ouvir e atuar em defesa das nossas famílias e das mulheres”, frisa. 

Na reunião dessa semana, novos documentos foram apresentados pelos movimentos sociais, dentre elas, a construção da Casa da Mulher em Juatuba. “Este projeto atenderá inicialmente 15 municípios da bacia do Paraopeba que foram afetados pelo rompimento das barragens B1 e B2 do Córrego do Feijão em Brumadinho em 2019. Funcionará como uma casa de apoio e centro de referência, com uma unidade da Defensoria Pública e abrigo temporário para mulheres em situação de violência doméstica”, revela. 

Segundo a coordenadora da MAB, o projeto está previsto no acordo de reparação assinado pela Vale, que destinou R$2,5 bi para os 25 municípios que compõe a bacia. Segundo Joelisia, somente Juatuba receberá cerca de R$160 mil. No entanto, a construção da sede foi paralisada pela Vale desde fevereiro e não apresentou respostas diante das cobranças da comunidade e das autoridades. 

Ampliação do atendimento da polícia 

Quando Andreia Julião desapareceu, quando os familiares partiram em busca de informações, encontraram as delegacias fechadas já que havia anoitecido. A falta de plantões é uma angústia para a comunidade e foi uma das demandas discutidas na reunião. “A falta de plantões na DEAM e no Pelotão da Polícia Militar deixa a população desassistida nos finais de semana, à noite e nos feriados”, revela Joelísia. 

A falta de iluminação pública e de capina em locais ermos também deixam inseguras as mulheres que precisam passar por esses locais. O ex-marido de Andréia escolheu a linha férrea que não tinha iluminação e era um lugar ermo como local para o crime.

“A falta de gestão pública facilita a ação dos criminosos para todo tipo de crime”, diz Joelísia. 

Por fim, a comunidade também ressaltou o pequeno contingente de policias diante do aumento de ocorrências. “Pontuamos também a falta de condições das polícias Civil e Militar de prestarem atendimento suficiente, principalmente no caso de violência familiar que acontecem, em sua maioria, no final de semana”, diz. 

Ao final, os moradores encaminharam documentos, entre eles, a realização nos próximos 30 dias, da primeira reunião da Rede de Enfrentamento à Violência contra Meninas e Mulheres de Juatuba, com a participação de representantes dos serviços de saúde e assistência social do município. Também reivindicaram mais divulgação do aplicativo “Chame a Frida” da PCMG que facilita o pedido de socorro. 

Os organizadores também aproveitaram a reunião para formalizar pedidos de infraestrutura para Ocupação Santa Fé, Francelinos e outras comunidades carentes. “Solicitamos o reestabelecimento do fornecimento de água, além do remanejamento de recursos para fortalecer os serviços de segurança pública, limpeza urbana e iluminação pública nessas regiões”, finalizou Joelísia.