PÂNICO NAS ESCOLAS: Juatuba teme segurança após prefeito demitir porteiros

Olho: “Minha sugestão ao prefeito é que ele contrate segurança privada para todas as 17 escolas, que seja coordenada por um profissional policial, que ficará responsável pela atividade de inteligência e contra-inteligência da unidade policial”, diz presidente da Câmara

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Os ataques bárbaros que ceifaram a vida de quatro crianças em uma creche de Santa Catarina e feriu professores e alunos em um colégio de Manaus, colocaram o Brasil em pânico. O receio dos pais e políticos é que os episódios possam incitar outros jovens a planejar o mesmo contra a vida de estudantes de Juatuba e Mateus Leme.

Apesar de em outras cidades a contratação de seguranças armados, porteiros e a intensificação do controle de entrada e saída de pessoas nas escolas municipais e estaduais serem a pauta do momento, Juatuba insiste em seguir na contramão, já que com o decreto de contenção de despesas, o prefeito demitiu todos os porteiros das escolas municipais.

As reclamações chegaram aos gabinetes dos vereadores esta semana e o que preocupa é o livre acesso de qualquer pessoa às unidades escolares. Em plenário, o vereador Ted Saliba, revelou que ficou surpreso quando esteve na Escola Maria Rita Duarte, em Boa Vista, “onde não havia nenhum porteiro na entrada”.

 “A diretora me informou que tem se desdobrado para impedir que a escola fique sem uma inspeção na portaria, e segundo ela, tem colocado servidores fazendo esse controle durante a entrada dos alunos. Porém, ela disse que na maior parte do dia fica complicado, já que os profissionais desempenham outras atividades. O correto é a contratação dos porteiros novamente, até alinharmos um sistema de segurança mais efetivo”, revela.

Ameaças dentro das escolas

Durante a discussão do tema, o líder do prefeito, vereador Jurandir dos Santos, disse ser necessário o debate não apenas com o governo, mas também com a população. “Isso precisa ser debatido, porque as pessoas passam a achar normal esses ataques e querer reproduzir em todos os lugares. Inclusive, algumas professoras têm manifestado interesse em pedir exoneração após ameaças de alunos e familiares dos mesmos. Isso não pode ocorrer em nosso município; é preciso um plano de emergência entre a Câmara, as escolas e o governo”.

Jurandir disse que em reunião com a Secretaria de Educação, foi solicitado um plano de segurança dentro das escolas, com a instalação de câmeras externas, de concertina nos muros e contratação de segurança.

Além da proposta do plano de ação, Jurandir destacou a necessidade de discussão do projeto de lei que propõe a criação da Guarda Municipal armada, datado de 28 de março do ano passado. O vereador disse que o projeto está parado há um ano na Câmara. “Proponho a análise urgente desse projeto, já que tem parecer de todas as comissões. Solicito um parecer jurídico para que possamos discutir a segurança pública no município e uma audiência pública para tratar o assunto em conjunto com a comunidade”.

Faltava orçamento

Após a fala de Jurandir, Ted Saliba, que era o presidente da Câmara na época em que o projeto foi apresentado, alegou que ele só não foi colocado em votação porque o executivo solicitou prioridade em outras demandas, já que não havia previsão orçamentária à época para a implementação de uma guarda municipal, que vai gerar gastos em treinamento, realização de concurso e nomeação de profissionais. “Outra questão que observamos é que de acordo com uma resolução nacional, o município só pode ter guarda armada se tiver mais que 58 mil habitantes. Destaco também que as comissões ainda não deram o parecer sobre o projeto da Guarda Municipal. O único parecer que temos é o jurídico.

Câmeras não funcionam

O vereador Messias Leão disse que todas as escolas têm deficiências há muitos anos e que a prioridade é aprimorar a segurança. “Não adianta instalar mais câmeras nas escolas, se as que já existem, sequer funcionam. “Será que sabemos quem está saindo ou entrando nas escolas hoje, já que as câmeras não funcionam. Antes de prevermos mais gastos, devemos fazer funcionar o que temos”.

Outra sugestão do vereador é a realização de um treinamento junto aos educadores e servidores para auar em caso de emergências, pânicos ou até mesmo situações suspeitas. “Há alguns dias me deparei com um suspeito jogando pirulito por cima do muro para os alunos. Nenhum servidor viu a ação, ou sequer pode fazer nada, por desconhecer como agir, ou até mesmo pela falta de um profissional responsável e qualificado”, revelou.

Cooperação dos pais e responsáveis

O vice-presidente da Câmara, Eltinho da Agência, disse estar assustado com a repercussão e com o pânico de alunos e pais durante visitas nas escolas esta semana. O vereador criticou a forma precoce com que os pais autorizam o uso do celular, a permissão para que a criança ou adolescente acesse jogos violentos e a compra de réplicas de armas e até brinquedos e apetrechos agressivos, que podem influenciar na formação das crianças. “Estive em um sítio neste final de semana com amigos e no momento em que ninguém estava olhando, um jovem de 12 anos pegou a faca e ficou golpeando a carne do churrasco, como se fosse um profissional treinado. Nesses momentos, nós pais, temos que observar e frear essas atitudes”, alerta.

Audiência pública

O presidente do legislativo, Laécio do Silvestre, disse que irá promover uma audiência pública sobre a criação da guarda municipal nos próximos dias e que vai convocar profissionais da segurança para participar, bem como representantes de cidades que já têm a guarda formalizada. Porém, de acordo com Laécio, o prefeito já deveria contratar segurança para as escolas. “Minha sugestão inicial ao prefeito é que ele contrate segurança privada para todas as 17 escolas e que ela seja coordenada por um P2. Ou seja, um comandante ou profissional da Polícia, que ficará responsável pela atividade de inteligência da unidade policial”, disse presidente da Câmara.

Pais dizem que Educação está “largada às traças”

E não foi apenas a Câmara que recebeu as reclamações sobre a situação de insegurança nas escolas de Juatuba. O Jornal recebeu ligação de alguns pais que se dizem preocupados com a questão da segurança nas unidades educacionais do município.

“Moro no Vila Maria Regina e realmente a escola aqui não tem segurança, nem para os alunos e muito menos para os professores. Além disso, a escola que tem o muro baixo, é afastada e está com muita sujeira e mato no entorno. Infelizmente, a educação de Juatuba está largada às traças. Tem três dias que não estamos mandando os nossos filhos para a escola, com medo dos últimos acontecimentos. A Educação, bem como toda cidade, infelizmente está abandonada”, opina Girlene dos Prazeres.

Já Lara Sofia que também é mãe de estudante da rede municipal, diz que a presença de um porteiro é essencial no ambiente escolar, para controlar a entrada e saída dos alunos, notar ocorridos dentro da escola e observar os acontecimentos desde a entrada, a permanência e saída dos alunos. “A segurança na escola está deixando a desejar; são muitas brigas e todo tipo de gente entrando e saindo. A escola Maria Renilda, por exemplo, merecia uma segurança melhor. Sem porteiro, fica difícil e, sem câmeras, pior ainda”.

Adolescente que ameaçou atacar a escola Domingos Justino é apreendido

 “Vamos parar Minas Gerais no massacre. Se vacilar na porta do Justino, eu vou picar a cabeça de todo mundo, Zé”. A frase é de um menor, estudante da Escola Estadual Domingos Justino Vieira, em Mateus Leme.

O jovem gravou um vídeo que circulou nas redes sociais, causando pânico e apreensão na cidade e, várias diretoras ligaram para a Polícia Militar, pedindo ajuda nesta terça-feira (11). As diretoras relataram que estavam recebendo ligações de pais de alunos apavorados, dizendo que não mandariam os filhos para as aulas de terça-feira, por temerem que ocorresse um atentado.

A partir das denúncias e do vídeo, os policiais conseguiram identificar o aluno e localizar a casa onde ele mora. Chegando na residência, o adolescente, que estava acompanhado dos pais, admitiu ter feito o vídeo e contou que teve a ajuda de dois primos, identificados por Paulo e Patrick.

Depois de apreender o adolescente, os policiais militares foram à casa de Paulo e lhe deram voz de prisão. Os dois foram levados para a Delegacia de Mateus Leme. Os policiais também estiveram na residência do terceiro suspeito, identificado como Patrick e, incialmente ele não foi encontrado. Mais tarde, a PM conseguiu apreender o jovem. O teor do depoimento dos adolescentes e os motivos que os levaram a gravar o vídeo com a ameaça ainda não foram revelados.

Operação reforçada

As ameaças em Mateus Leme aconteceram menos de 24 horas depois da Polícia Militar lançar a Operação de Proteção Escolar, em que uma equipe especializada está percorrendo as escolas dos municípios para dar mais segurança aos estudantes, professores e funcionários. Os militares atuam com equipes multidisciplinares, fazendo guarda ostensiva na porta das escolas e nas comunidades do entorno.

Rede de proteção

Em decorrência dos últimos fatos envolvendo a segurança das escolas, a prefeitura de Mateus Leme emitiu uma nota informando que há o contato contínuo da administração com as escolas e a Polícia Militar. “Graças aos esforços contínuos e à cooperação mútua, estamos conseguindo construir uma rotina de segurança eficaz que trará mais conforto à população”.

De acordo com a prefeitura, após os últimos acontecimentos, algumas medidas já estão em funcionamento, dentre elas, o contato contínuo com a administração das escolas e Polícia Militar, a recomendação de evitar aglomerações na porta das escolas.

“Durante o funcionamento escolar, todas as entradas estão sendo mantidas fechadas e monitoradas. Em caso de necessidade de adentrar às escolas ou obter informações, sugerimos que pais e responsáveis realizem agendamentos prévios junto à direção”, diz a nota.

A prefeitura também solicitou que as pessoas evitem espalhar Fake News, pois a divulgação desenfreada sem uma apuração, pode semear o pânico na comunidade.

MPF quer moderação de conteúdos que incitem ataques

O Ministério Público Federal requisitou ao diretor jurídico do Twitter Brasil informações sobre quais providências estão sendo adotadas, em caráter emergencial, para a moderação de conteúdos relacionados à incitação de violência e a notícias de possíveis ataques a escolas. Circulam nas redes e aplicativos informações sobre ações violentas em estabelecimentos escolares previstas para ocorrer nos próximos dias.

O pedido foi feito no âmbito do inquérito civil público instaurado em 2021 com a finalidade de investigar a postura das principais redes sociais e aplicativos de mensagens no Brasil no enfrentamento das fake news e da violência digital.

No documento, o procurador regional dos Direitos do Cidadão adjunto em São Paulo, Yuri Corrêa, requisitou à plataforma a relação de todos os perfis/conteúdos apontados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública como propagadores de informações que incitem à violência, com a discriminação de quais deles foram objeto de moderação, pela plataforma, em qual data e de que modo.

Nos casos de conteúdos que não foram moderados, mesmo havendo a indicação, o procurador pede que seja informado o fundamento e apresentados os resultados das análises feitas à luz dos termos de uso da plataforma, em especial aquelas relacionadas à temática “segurança e crime digital”.