Ministério da Cultura reconhece Terreiro Bakise Mona Ixi como ponto de cultura em Mateus Leme

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A diversidade cultural de Mateus Leme ganhou o reconhecimento do governo federal nesta semana. O Terreiro Bakise Mona Ixi, localizado no bairro Mangabeiras, recebeu a distinção de Ponto de Cultura, concedida pelo Ministério da Cultura do Brasil. O Certificado é uma honraria concedida a entidades que promovem e preservam manifestações culturais do povo brasileiro.

Além do reconhecimento, o documento permite ao espaço acesso a programas governamentais de apoio e financiamento, mas sua importância vai além desse benefício. Ele também valoriza as práticas culturais e religiosas afro-brasileiras em Mateus Leme e ajuda a combater a intolerância religiosa.

Wellington Soares, sacerdote do local que atende por Pai Tata Ximeango, explica que a conquista promove a visibilidade da religião afro e valida o trabalho cultural desenvolvido pelo Bakise Mona Ixi.

“Somos a primeira associação de matriz africana a se tornar ponto de cultura em Mateus Leme. Este reconhecimento é um marco significativo para nossa comunidade e reforça nosso compromisso com a valorização e promoção da cultura local”, diz. 

Terreiro Bakise Bantu Kasanje completa 11 anos 

O terreiro Bakise Mona Ixi é uma extensão do Bakise Bantu Kasanje, que possui mais de quatro décadas de história. Foi nesse espaço que Wellington Soares cresceu e formou sua identidade religiosa. “Eu estou no candoblé desde que nasci pois, minha família toda é de terreiro”, revela. 

Em 2013, ele fundou o Bakise Mona Ixi, uma manifestação do candomblé angola bantu. Desde então, o espaço possui 57 membros, que são chamados de “filhos do terreiro”. De acordo com o sacerdote, em eventos promovidos pela casa, o número de frequentadores sobe e chega a 100 pessoas que acompanham as celebrações. 

Além da prática religiosa, Pai Tata Ximeango explica que a instituição também promove o trabalho social por meio de cursos e oficinas culturais. “Somos uma comunidade e, com isso, exercemos atividades culturais oferecendo oficinas de artesanato, dança, corte costura africana, culinária ancestral”, explica. 

A prática do candomblé 

O candomblé é uma religião de matriz africana que surgiu no Brasil a partir da cultura dos negros escravizados. Estima-se que a prática nasceu na Bahia e, assim como a umbanda, são ramificações das religiões da África. O candomblé se divide em quatro denominações de acordo com a origem: o Ketu veio da tradição iorubá com os povos nagô. Já o Jeje, da fon, dos povos jeje. O Bantu segue o bacongo, trazido pelos angolanos, enquanto que o Caboclo une a mitologia africana e indígena. “Nossas celebrações não são apenas religiosas, mas também uma forma de mantermos vivas as tradições de nossos antepassados”, explica Pai Tata Ximeango. 

Ao contrário da umbanda, nos rituais de candoblé não existe a prática de incorporação, mediunidade e nem a utilização de tabaco, álcool ou qualquer outra substância que altere a consciência. As celebrações envolvem batuques, danças e oferendas para atrair a presença dos orixás. 

A divindade máxima da religião é o deus soberano Olódùmarè e, abaixo dele, estão os orixás, entidades com representações humanas que, segundo a crença, regem as forças da natureza e são capazes de interferir no plantio, caça, uso de ervas curativas e até mesmo na fabricação de ferramentas.

Ao contrário das religiões monoteístas, os mitos sagrados da religião africana não são perfeitos e, assim como o ser humano, possuem defeitos e virtudes que os tornam temperamentais como Xangô, vingativos como Ogum, mas também maternais, como Iemanjá.  

Luta contra intolerância

A luta por inclusão da prática religiosa tem sido um dos maiores desafios dos adeptos das religiões de matriz africana no Brasil. Por anos, as práticas foram perseguidas pelas igrejas dominantes e, no Brasil, o caso mais conhecido é o da ialorixá baiana Gildásia dos Santos e Santos, também conhecida como Mãe Gilda. A ialorixá faleceu em 2000 e teve uma trajetória de vida marcada por ataques físicos e verbais devido à sua fé, o que a tornou um símbolo da resistência dos adeptos da religião. Em 2007, foi criado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, em sua memória. 

Para Pai Tata Ximeango, o reconhecimento do governo federal traz um sopro de esperança para que a sociedade se conscientize sobre as diversas crenças, entendendo que a fé, também é uma herança cultural que deve ser respeitada.

“A certificação como Ponto de Cultura abre portas para ocuparmos nosso lugar de direito na sociedade. É uma validação do nosso trabalho em preservar e disseminar nossas tradições culturais e religiosas”, diz Pai Tata Ximeango.