Ministério da Saúde prepara estudos sobre a saúde da população nas regiões atingidas pelos desastres de Mariana e Brumadinho

Juatuba e Mateus Leme pertencem à área limítrofe de abrangência do desastre ocorrido em Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019

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A diretora do departamento de vigilância em saúde ambiental e saúde do trabalhador do Ministério da Saúde, Maria Juliana Corrêa, admitiu a falta de dados oficiais sobre os efeitos, na saúde humana, da contaminação de água, solo, ar e alimento por rejeitos de minério de ferro após os crimes socioambientais ocorridos em Mariana e Brumadinho.

Ela representou o Ministério nesta terça (21) em audiência pública da comissão externa da Câmara que trata da fiscalização de barragens. Segundo Maria Juliana, muitos estudos enfrentaram travas judiciais, que ela espera ver superadas com a repactuação dos acordos de reparação em curso.

“No caso da Saúde, são trabalhos que vão iniciar. Eu lamento ter que dizer isso porque acho muito dramático. Em relação a Mariana, por exemplo, passaram-se sete anos e meio e a gente ainda não tem um consolidado do contingente de pessoas que foram atingidas, dos efeitos à saúde e das consequências a curto, médio e longo prazos”, disse.

Maria Juliana informou que o Ministério “com certeza, não trabalhará com a omissão desses crimes nem com a omissão dos registros de adoecimentos”, garantiu. “Mas isso exige que a gente organize uma estrutura que a gente ainda não tem para fazer frente a todas as necessidades”.

Municípios atingidos

A audiência também ouviu representantes dos 26 municípios da bacia do rio Paraopeba atingidos pelo rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho. O crime ocorreu em janeiro de 2019 e deixou mais de 270 mortos. Morador de Brumadinho, Marcos Rezende definiu a situação da cidade como caótica diante dos efeitos à saúde mental e da permanência de metais pesados espalhados por enchentes.

“Problemas como ansiedade, depressão, várias tentativas de autoextermínio, além de problemas de pele e problemas respiratórios devido à poeira do minério de ferro. E a pessoa, se não estiver bebendo água intoxicada pela lama, está bebendo água intoxicada por produtos químicos, como o cloro”.

O drama dos atingidos foi traduzido em números por assessorias técnicas independentes. Coordenadora da Associação de Defesa Ambiental e Social (Aedas), Yasmin Vieira citou o resultado de estudo sobre contaminação ambiental e riscos à saúde em Brumadinho.

“Identificamos potencial risco à saúde humana por ingestão de água subterrânea com concentração de metais pesados em 19% do total das nossas amostras. Sobre a qualidade do ar, uma das coletas apontou que a concentração de partículas inaláveis estava 480% a mais do que o valor de referência”, apontou.

Yasmin também comparou os atendimentos do SUS na cidade entre 2018, antes da tragédia, e 2019, após o rompimento da barragem. “Só em saúde mental, o número de procedimentos ambulatoriais aumentou 60% de um ano para o outro. Os casos de dengue foram 40 vezes maiores e os casos de contaminação exógena também aumentaram”.

Em cidades vizinhas, como Betim, Mateus Leme, Mário Campos, Juatuba, São Joaquim de Bicas e Igarapé –, foram registrados agravamento de doenças crônicas e inflamatórias; aumento dos casos de dermatites, danos respiratórios e gastrointestinais; além de depressão e síndrome do pânico. Também há suspeitas de infecções por superbactérias resistentes a antibióticos em várias cidades.