Moradores do bairro Paraíso estão “ilhados” após chuvas dos últimos dias

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Região está abandonada e prejuízos da chuva se acumulam enquanto prefeitura está fechada

A situação dos bairros periféricos de Mateus Leme é amplamente conhecida na cidade. Toda vez que a chuva vem, o problema triplica de tamanho. São crateras, ruas sem a mínima condição de trânsito, alagamentos. Isso tudo torna muito difícil a vida de moradores de comunidades que já não têm os serviços básicos, como água, energia elétrica e esgoto.

Nos últimos dias, quem viveu isso na pele foram os moradores do bairro Paraíso. Com os temporais, as principais vias da região, todas de terra, ficaram intransitáveis e quem mora no local teme pela própria vida, uma vez que carros estão tendo dificuldade de acessar o bairro, então em caso de necessidade médica, o socorro pode não chegar.

O bairro Paraíso existe há mais de 30 anos. Os lotes na região são vendidos até hoje sem acesso a água. O morador Paulo Márcio Pereira conta que todos já estão cansados das condições humilhantes com as quais têm que conviver. O carro de Paulo, por exemplo, está com problemas mecânicos após cair em um buraco aberto pela chuva. Ele disse que tentou procurar pessoalmente o prefeito eleito Renilton Coelho, mas que encontrou a Prefeitura fechada.

“O atual prefeito sempre bateu em oposição ferrenha ao que perdeu, mas todos os ex-prefeitos, nesse período chuvoso, nos socorriam… mandavam trator, abriam a rua, colocava cascalho pra gente ter acesso às nossas casas. A gente já não tem nada, nem a água; não estamos pedindo escola, nem posto médico, só água e nem isso a gente tem. E com as ruas do jeito que tá, nem o caminhão-pipa tem condições de subir aqui para abastecer as casas”, desabafou o morador.

Paulo contou à reportagem que os moradores se reuniram para tentar encontrar uma solução, mas que a situação é muito complicada e atinge inclusive a principal avenida da comunidade, que dá acesso às vias que levam ao Centro. “Eu acho que a pessoa quando se propõe a um cargo público, de antemão, deve conhecer os problemas da cidade, ter um plano do que é mais necessário. Porque no nosso caso é questão até de vida, não tem como sair, pedir um táxi, passar carro, porque não tem estrada. E o prefeito continua fazendo as festinhas dele, comemorando e não tá nem aí pra nada. Agora estamos aqui ilhados, sem ter a quem recorrer, porque nós moradores não temos condição de alugar um trator pra arrumar as ruas. O problema é responsabilidade do município, aqui é área urbana”, indignou-se.

O morador acredita que é preciso mudar a forma como a política é feita no município e olhar mais para quem está longe da região central. “É hora de mudar o conceito de política, ainda mais em uma cidade pequena igual essa, de pessoas pobres, pessoas humildes, que não têm poder aquisitivo grande. Porque quem mora lá no centro da cidade, tudo bem; lá tem asfalto, tem água, tem luz, tem tudo, e a gente tá aqui esquecido. E não somos invasores, nós compramos lotes, pagamos IPTU, então acho que é um descaso muito grande com a gente”, ressaltou.

Prefeitura fechada

Paulo contou que os moradores tentaram contato com a administração municipal, mas que a Prefeitura esteve fechada durante toda a semana. A informação foi confirmada pela reportagem, que teve acesso a um documento divulgado pelo Executivo. Nele é informado aos munícipes que, de acordo com o decreto nº 02 de 08 de janeiro de 2021, o atendimento na sede da Prefeitura e anexo administrativo ficaria suspenso entre os dias 11 e 15 de janeiro.

O presidente da Câmara, Wellington Batata, solicitou acesso ao texto do decreto, uma vez que a administração do município não tem feito a publicação eletrônica dos documentos, desde a troca de governo. Desta forma, sem acesso ao decreto, não foi esclarecido o motivo pelo qual a sede do poder municipal suspendeu o funcionamento.

Ações contra loteadores

No ano passado, o então prefeito Júlio Fares iniciou uma série de ações contra responsáveis por loteamentos na cidade que não cumpriram com as obrigações de infraestrutura impostas pela legislação municipal. Foram mais de 25 bairros incluídos na análise de documentações que atestaram as falhas por parte de quem vendeu os espaços.

Na época, um dos primeiros processos a ter liminar favorável à prefeitura foi contra a Fiva Empreendimentos Ltda. A empresa foi responsável pela venda dos lotes do bairro Paraíso. A região até hoje não tem rede esgoto nem de água e a Prefeitura de Mateus Leme abastece as casas por meio de caminhões-pipa. A medida provisória determinou o bloqueio dos bens da Fiva, passando para o município todos os lotes não vendidos na região. Além disso, a imobiliária deverá pagar ao município valor determinado pela justiça para execução das obras. À decisão, ainda cabia recurso.

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