Nova denúncia aponta maus tratos a idosos na Casa de Repouso Sônia Filha, em Mateus Leme

Polícia Militar comparece ao local e registra necessidade de interdição imediata

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OLHO: Não é a primeira vez que o lar de idosos se envolve em polêmicas; em dezembro passado, o Jornal de Juatuba e Mateus Leme noticiou que a instituição estava sem alvará de funcionamento e que unidade de Florestal foi fechada após confirmação de irregularidades

O Centro de Repouso Sônia Filha, no bairro Central, em Mateus Leme, está novamente envolto em polêmicas e denúncias. A reportagem do Jornal de Juatuba e Mateus Leme teve acesso a um Boletim de Ocorrência da Polícia Militar que, de acordo com o documento,  foi acionada para garantir que um interno de 58 anos tivesse atendimento médico.

Segundo a denúncia, o paciente tem esquizofrenia e está na casa há seis meses. Na data em que a PM foi chamada para levá-lo ao hospital, seu estado de saúde estava crítico. 

De acordo com o BO, uma familiar disse que ao chegar ao estabelecimento para visita semanal ficou assustada, pois o interno estava debilitado, magro, não conseguia mais andar. “Ele não saía da cadeira de rodas e não tinha mais mobilidade nos braços”.

“Quando cheguei para a visita, encontrei apenas uma cuidadora para todos os idosos e meu tio estava urinando nas roupas. Vi que ele tinha feridas no órgão genital e diversas marcas roxas nos braços”, são algumas das afirmações que constam no boletim.

Devido ao estado crítico de saúde do parente, a mulher chamou a Polícia e teve muita dificuldade de tirá-lo da instituição. No Boletim de Ocorrência está registrado que a cuidadora, “proibiu a retirada do paciente da Casa de Repouso.  Somente depois de muita insistência, ele foi levado para um hospital, onde foi diagnosticado que o mesmo estava com intoxicação por medicamentos.

Grande risco

Em depoimento aos militares, a cuidadora da Casa de Repouso afirmou que o interno era medicado todos os dias com Bupropiona 150 mg e Depakene 250 mg às 8h, e Clonazepam 2 mg e Depakene 250 mg às 20h.

A cuidadora revelou ainda que “não possui curso técnico especializado para medicar idosos e que, na ocasião, era a única funcionária no local”. Ela confirmou também que existem 20 pessoas internadas, entre acamados, pacientes com problemas psiquiátricos e idosos, não havendo médico, psicólogo ou a presença frequente de um técnico de enfermagem ou enfermeiro na instituição.

“A única responsável técnica é a nutricionista do local e conforme registrado no Boletim de Ocorrência, na ausência de funcionário durante a noite, quem fica no Centro de Repouso é o proprietário e gestor do local, João Henrique Alves Silva, vereador na cidade de Florestal.

Desrespeito

Vale lembrar que a legislação brasileira autoriza apenas médicos a prescrever medicações e enfermeiros a medicar. Também não é permitido a internação de pessoas idosas junto com pacientes psiquiátricos.

“Possibilidade de maus tratos”

A Polícia Militar anotou que o Centro de Repouso estava muito sujo e que havia mau cheiro de urina e a cuidadora informou que a faxineira não havia ido fazer a limpeza do local.

Em relato à polícia, os internos afirmaram que “recebem alimentação, mas nem sempre, essa é saborosa e caso alguém se recuse a comer o que é oferecido, não existem outras opções”.

Durante a inspeção da polícia, foi certificado que a sala de medicamentos estava aberta, possibilitando o fácil acesso de pacientes ou qualquer outra pessoa ao local. Os medicamentos estavam acondicionados em uma caixa de plástico, sem as embalagens originais ou receitas médicas. “Havia apenas uma folha digitada com o nome e a medicação de cada um, inclusive, o papel de medicação do senhor retirado do local na data do Boletim de Ocorrência estava rasurado”.

Os militares acionaram a Vigilância Sanitária, mas não havia equipe de plantão disponível. A PM ainda apontou que entende ser necessária uma intervenção imediata do local para fiscalização de documentos e medidas técnicas necessárias a estabelecimentos do segmento.

Alerta foi dado

Em dezembro de 2022, a reportagem do Jornal de Juatuba e Mateus Leme denunciou que o Centro de Repouso Sônia Filha, havia sido interditado pela Vigilância Sanitária.  Na época, cerca de 30 idosos que viviam no local foram transferidos para outra instituição ou deixados sobre a responsabilidade de familiares.

Segundo a fiscal de vigilância sanitária da Prefeitura, Luara de Carvalho, a interdição ocorreu após uma vistoria, que constatou diversas inadequações, dentre elas, a ausência de alvará sanitário e do Corpo de Bombeiros, irregularidades estruturais, medicamentos sem receita e ausência de corpo clínico especializado para o tratamento e acompanhamento de idosos.

Ainda segundo a fiscalização, o imóvel apresentava aspectos de insalubridade, falta de segurança e de acessibilidade. As fiscalizações foram iniciadas após denúncias. À época, João Henrique Alves Silva, que é proprietário do Centro de Repouso Sônia Filha e também vereador em Florestal, contestou a matéria do Jornal de Juatuba e Mateus Leme e a própria fala da fiscal, afirmando que o lar de idosos “não foi interditado e que a Prefeitura havia dado prazo para a regularização do alvará”.

“João do Asilo”, como é conhecido em Florestal, afirmou ainda que os pedidos da Vigilância Sanitária diziam respeito à questão estrutural do local e solicitou a remoção de uma paciente que não era idosa e sim do público convalescente, ou seja, acometida por alguma doença.

RETRANCA

“EM BUSCA DE JUSTIÇA”

Filha de idosa diz que diretor de Lar de Idosos está sendo processado por “extorquir e maltratar a mãe”

OLHO: “Infelizmente, minha mãe faleceu há dois meses sem ver a decisão da justiça, que se arrasta há mais de um ano e meio. O Promotor pediu vistas do processo, mas tenho certeza que o diretor dessa clínica vai pagar na justiça por tudo o que ele fez com minha mãe. Eu vou até o fim para honrar sua memória”, lamentou filha de idosa.

De acordo com a filha de uma idosa de Mateus Leme, tudo começou há pouco mais de um ano, quando a Casa de Repouso Sônia Filha, de Florestal, foi fechada pela prefeitura e vigilância sanitária, após denúncias de desvio de dinheiro e maus tratos aos idosos. A situação foi “descoberta” após a familiar de uma idosa sair de Belém do Pará, e ir à Florestal, para uma suposta auditoria nas contas de sua mãe, que estava sendo gerida pelo responsável da Casa de Repouso.

Erilene Alves Diniz, filha de uma das idosas que era assistida na Casa, conta que João Henrique Alves Silva “pegou os cartões bancários de sua mãe e fez saques e diversas compras em açougues e supermercados”.

“Ele sacou e fez vários pagamentos; ao todo ele roubou algo em torno de R$58 mil. Eu comecei a desconfiar que havia algo errado, quando João falou que a mamãe estava pagando muitas taxas bancárias, mas ela era extremamente lúcida. Eu cheguei na Casa de Repouso e vi uma cena lamentável: ela estava em uma cama, dopada com calmantes, algo que ela nunca havia tomado, toda urinada e comendo mal”, disse.

A filha da idosa ainda confirmou que na última vez que “João do Asilo” utilizou os cartões, fez uma compra de R$1.108,00 de carnes em um açougue. “Ele fazia isso tudo e ainda recebia R$3 mil por mês para manter minha mãe. Nosso advogado, Dr. Gustavo França, está tomando conta de todo o processo. Chegaram informações até nós, que João ‘saiu corrido’ de uma outra casa de repouso de Contagem, porque ela havia sido fechada. Estamos em posse de todos os boletins, provas, depoimentos e intimação extrajudicial, exigindo que ele devolva o dinheiro da minha mãe. Ele chegou até ser preso, mas foi solto, após pedido de Habeas Corpus”, conta.

Erilene encaminhou à reportagem, os extratos bancários da mãe, mostrando diversos saques, transferências e movimentações no cartão de débito, que segundo ela, foram feitos pelo vereador. “Quando encontrei minha mãe naquela situação resolvi retirá-la rapidamente do local, acabamos deixando os documentos e cartões bancários de posse de João e ele realizou diversos saques e movimentações até zerar a conta”, confirma.

Caso ainda é investigado

Informações apuradas pelo Jornal de Juatuba e Mateus Leme apontam que o caso ainda está sendo investigado. Um boletim de ocorrência cedido pela filha da idosa aponta que à época do ocorrido, Eny Diniz Costa, prestou depoimento à Polícia Civil, acompanhada por Erilene.

A perícia da Polícia Civil também esteve na Casa de Repouso de Florestal, avaliando as denúncias de suspeita de cárcere privado e maus tratos à idosos. “Foram consideradas questões de higiene, alimentação, cuidados médicos e demais pontos que se entender importantes”, confirmou laudo.

Sem a apresentação de alvará de funcionamento, a Casa de Repouso de Florestal foi fechada. Erilene afirmou que a Unidade de Mateus Leme de mesmo nome, “foi obrigada a retirar mais de 50% dos idosos pois, estava com superlotação, mas como ela tinha alvará, ainda continua aberta”.

Explicação não convence

Em um vídeo publicado nas redes sociais, o vereador tentou explicar as duas denúncias: a retirada de valores da conta e maus tratos. De acordo com João, as duas denúncias são infundadas. “Todos vocês sabiam que nós estávamos funcionando aqui, não vou dizer ilegalmente, pois todas as clínicas e asilos iniciam de baixo, aos poucos, não tem como chegar a abrir com alvará, receber e etc. Vocês nos conhecem, e sabem que não seríamos capazes de cometer qualquer atrocidade contra os idosos”.

 “Como uma clínica que protege os idosos, além de dar o conforto, protegemos a vida financeira dos internos. Com esse princípio, retiramos todos os valores da conta da pessoa e depositamos em juízo, para evitar que pessoas corruptas não se apropriassem disso. Essa foi a decisão e repetiríamos tudo de novo se fosse preciso”, explica no vídeo.

Com relação aos “depósitos em juízo”, que João afirma ter feito, Erilene diz que eles nunca existiram.

Em conversa esta semana com a reportagem, ela conta que a mãe faleceu há dois meses, porque quando saiu da Casa de Repouso, estava bem debilitada, “devido aos maus tratos sofridos”.

De acordo com o advogado de Erilene, Dr. Pedrilho Veras, o caso está sendo tratado em sigilo de justiça, por isso, não pode dar mais detalhes de novos desfechos. No entanto, a filha da Idosa, acredita que João será responsabilizado após as denúncias.

“Tenho certeza que o diretor dessa clínica vai pagar na justiça por tudo o que ele fez com minha mãe e com outros idosos. Eu vou até o fim para honrar a o nome dela. Esse homem não pode sair impune, não pode mais ser vereador e muito menos diretor de lar de idosos”, enfatizou filha de idosa.