Em apenas seis meses, cinco clínicas clandestinas para tratamento de dependentes químicos foram fechadas pela Polícia Civil em Mateus Leme. Essa semana, em mais uma ação que terminou com o fechamento de uma outra clínica, cinco pessoas foram presas e, de acordo com a Polícia Civil, os internos sofriam maus tratos, tortura, passavam fome e ainda eram castigados. Na casa funcionaram duas clínicas, uma foi fechada em 2021 e novamente em abril de 2022. De acordo com as investigações da Polícia Civil, os donos da clínica cobravam entre R$1 mil a R$1.900 dos familiares dos internos, que tinham ainda que fornecer medicamentos e cestas básicas e mesmo assim, de acordo com a polícia, os pacientes passavam fome e alguns era até castigados. “Não tinha café e nem leite, quando era servido alguma coisa, conforme relato das vítimas era somente um chá e um pão. O almoço também era sempre repetitivo, não tinha variação do cardápio e eram servidos até alimentos vencidos”, disse o delegado responsável pelo caso, Diego Nolasco.
A operação teve início após denúncia da ausência de alvará de funcionamento da Prefeitura, do Corpo de Bombeiros e da Vigilância Sanitária. A chácara onde funcionava a clínica era alugada e os proprietários não tinham envolvimento e desconheciam o que ocorria no local. Cerca de 42 pessoas entre homens, mulheres e adolescentes estavam internadas e muitos estavam no local contra a própria vontade. “A pessoa não tinha interesse de se internar, só que algum familiar ou responsável solicitava a alguém da clínica para providenciar a internação dessas pessoas. Uma equipe era direcionada até a residência do paciente e ele era retirado à força ou através da utilização de medicamentos, quando ficavam dopados. Eles eram simplesmente jogados e encarcerados no local”, revela delegado.
Os pacientes foram resgatados e os depoimentos dos internos foram reunidos no inquérito policial. Alguns relatos, afirmam que os medicamentos eram diluídos em água e alguns internos estavam sofrendo maus tratos e violência física de alguns funcionários, “sendo inclusive amarrados na cama”. Os policiais encontraram amarras e vários internos apresentavam escoriações nos pulsos e braços. “Os próprios internos eram responsáveis pela limpeza do local, outros eram recrutados inclusive para servir de segurança. Essa é uma situação muito complexa, onde dependentes químicos eram colocados uns contra os outros, resultando em inúmeras violências físicas”, explicou o delegado.
Cárcere privado
Os internos também relataram que na clínica havia o “QO”, o quarto oculto, que era utilizado para colocar as pessoas de castigo, amarradas ou dopadas e que também havia punição de lavar vasilhas até meia noite. Eles contaram ainda que ficavam trancados o tempo todo, “que não havia bebedouro no local e, muitas vezes não havia água e nem energia elétrica”.
Segundo a Polícia Civil, os dependentes químicos ficavam amarrados por três dias e chegavam a fazer as necessidades na cama, por não conseguirem ir ao banheiro, por estarem dopados. “Quem desobedecia às ordens das pessoas que comandavam a clínica, também recebia um castigo chamado “deserto”, onde eram amarrados à cadeira nas mãos e pernas e colocados em frente à parede, por até dois dias sem fazer nada”, disse nota da Polícia Civil.
Há relatos ainda de pacientes que era vigiados para não denunciarem os maus tratos aos familiares durante as ligações telefônicas. “Alguns internos sequer tiveram contato com os familiares, outros que faziam contato por telefone eram vigiados o tempo todo e, se por ventura pedissem socorro, o telefone era desligado e eles eram castigados”, finalizou delegado.