Primeiro, vem o corte drástico da renda, normalmente provocado pela perda do emprego de um ou mais integrantes da família. Algum tempo depois, a escolha entre necessidades básicas: moradia ou alimentação. O desfecho é tão implacável, quanto triste: barracas montadas nas calçadas, colchões sob marquises, mudanças para ocupações precárias. Esse é o roteiro padrão dos relatos de inúmeras famílias que passaram a morar nas ruas de Juatuba e Mateus Leme desde o início da pandemia.
Um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais aponta que a população de rua cresceu no Brasil, em 2022. De janeiro a maio, mais de 26 mil novas pessoas foram registradas como em situação de rua, no CadÚnico, o cadastro do governo federal que dá acesso a benefícios sociais. Hoje, no país, mais de 180 mil pessoas estão nessa situação.
Levantamento feito pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua aponta que só em 2022, até maio, 5.039 mil pessoas foram viver nas ruas da capital paulista. A população em situação de rua da cidade chegou à 42.240 pessoas. No Brasil, pelo menos 26.447 pessoas foram morar nas ruas este ano. Essa população saltou de 158.191 em dezembro de 2021, para 184.638 no mês passado.
Situação em Juatuba
Recentemente, o Jornal de Juatuba e Mateus Leme noticiou a fala de uma técnica do Centro de Referência de Assistência Social, Creas, que usou a tribuna da Câmara para confirmar o aumento de pessoas em situação de rua em Juatuba e em toda a região. A servidora atribuiu o problema à pandemia, ao aumento de desempregados e ao corte de recursos e investimentos federais, que deveriam amparar as Secretarias de Assistência Social dos municípios.
De lá pra cá a situação só piorou, segundo comerciantes e moradores de Juatuba. Para alguns, “o aumento do número de pessoas em situação de rua se dá pelo corte do orçamento do governo federal para 2023, que já gera impacto no fim deste ano, com a redução de gastos e até o corte de benefícios”.
A reportagem questionou a Secretária de Assistência Social, Luana Cristina Silva Rocha, sobre o número de pessoas em situação de rua em Juatuba, bem como as ações feitas pela secretaria para mitigar esse número e acolher essas pessoas com programas sociais. Um levantamento encaminhado pela secretária aponta que existem hoje no município 25 pessoas em situação de rua, porém, 15 se encontram em situação temporária, uma vez que declaram possuir residência em outro município, e os outros dez se encontram em situação permanente.
De acordo com Luana, o Centro de Referência Especializado em Assistência Social, CREAS, já realizou o contato com os familiares de todos os 25 moradores de rua na tentativa de reestabelecimento de vínculo familiar, bem como solicitações de emissão de segunda via de documentos de forma gratuita. Foram feitos também encaminhamentos para atendimento médico, cadastramento para o recebimento de auxílio e benefícios sociais. O CREAS também entregou até este final de semana cerca de 235 Benefícios Eventuais de Vale Social e realizou 42 encaminhamentos de pessoas para o Centro de Libertação de Vidas, CELIVI, entidade que mantém convênio com o município para o tratamento de dependentes químicos e álcool em situação de risco.
“Ainda não tivemos conhecimento de uma onda de frio intenso na nossa região, mas caso venha a ocorrer, tanto a Secretaria de Assistência social quanto o CREAS, estão preparados para fazer o acolhimento das pessoas em vulnerabilidade social e em situação de rua”, relata Luana.
Número preocupante em Mateus Leme
Segundo alguns lojistas e moradores de Mateus Leme, a proximidade das festas de final de ano sempre coincide com o aumento da população em situação de rua no município, no entanto, o número de pessoas nas ruas e sem acolhimento do CREAS está maior neste ano.
O Jornal também encaminhou os mesmos questionamentos à Secretária de Assistência Social de Mateus Leme e a mesma informou que os dados só poderiam ser repassados pela assessoria de comunicação, que não respondeu à reportagem. No entanto, a secretária destacou que os mesmos questionamentos haviam sido respondidos à Câmara esta semana, após o pedido de informação de um parlamentar”.
O Jornal de Juatuba e Mateus Leme entrou em contato com o Legislativo, que informou que o pedido de informação questionando sobre o número de moradores de rua e ações de acolhimento no município, foi feito pela vereadora Irene de Oliveira, após reclamações de cidadãos sobre o crescimento de moradores de rua no município.
O Jornal de Juatuba e Mateus Leme entrou em contato com o Legislativo, que informou que o pedido de informação questionando sobre o número de moradores de rua e ações de acolhimento no município, foi feito pela vereadora Irene de Oliveira e será respondido na próxima semana, já que na quinta-feira, 08, foi feriado no município e na sexta-feira, ponto facultativo.
Na capital número supera população de 450 cidades
Segundo estudo da UFMG existem mais de 8 mil pessoas em situação de rua na capital mineira. Se esse grupo formasse uma cidade, teria mais habitantes que a população de 450 municípios mineiros, e equivaleria ao número de moradores estimado pelo IBGE, no Vale do Rio Doce.
É um contingente 20% maior em relação aos registros do fim de 2019, quando os mesmos pesquisadores contabilizaram 7.390 cidadãos vivendo ao relento na capital. O levantamento foi feito com base em dados do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.
Os dados divergem dos cálculos da prefeitura. Segundo o último censo municipal, divulgado em janeiro de 2020, há 4,6 mil sem-teto na capital mineira. Os estudiosos da UFMG, contudo, contestam o município e alegam que os cadastros da Secretaria de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania estão desatualizados.