Professora mateus-lemense vence barreiras e estimula a solidariedade através da educação e da literatura

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Desde 2023, a escritora, professora e assessora de imprensa Eriane Grigório tem expandido seu trabalho para além das fronteiras do Brasil. Nascida e criada em Mateus Leme, a moradora do distrito de Azurita, atualmente leciona em escolas do município e de Juatuba. Na literatura e solidariedade, a educadora encontrou um caminho para transformar vidas. Seu projeto, Conexão Brasil-Angola, nasceu da necessidade de discutir a educação antirracista e se tornou uma ponte entre os dois países, promovendo ações sociais e culturais.

A iniciativa começou de maneira simples: um trabalho educacional para fomentar o debate sobre o racismo e suas implicações na sociedade. Durante esse processo, Eriane conheceu Clinthon Menezes, um influenciador digital angolano com forte presença nas redes sociais, especialmente na área gastronômica, onde é conhecido como o “Embaixador do Funge” – prato típico angolano semelhante ao angu brasileiro.

O impacto do trabalho de Clinthon e sua ligação com a cultura angolana despertaram o interesse da professora, que viu a possibilidade de um intercâmbio cultural e social entre seus alunos e a cultura do país.

“Foi uma interlocução muito boa”, relata Eriane. “A partir desse contato, ele me chamou para trabalhar com ele na administração. Hoje, sou sua assessora de comunicação e conheci muitas pessoas de Angola. Meus alunos também tiveram essa oportunidade, o que resultou em um projeto muito positivo.”

Dessa parceria, surgiu um trabalho maior: Clinthon chamou Eriane para integrar a Associação de Ajuda Clinthon Menezes, inicialmente para atuar na produção de textos institucionais. Com o crescimento da organização, a professora viu que poderia contribuir ainda mais e teve a ideia de lançar um livro infantil que, além de promover a educação antirracista, ajudaria a arrecadar fundos para ações humanitárias em Angola.

Nasce o livro infantil

Em 2023, Eriane publicou Menina Pretinha e a Zebrinha Listradinha, um livro voltado ao público infantil que discute questões de identidade racial e inclusão. Parte das vendas da obra é revertida para a Associação de Ajuda Clinthon Menezes, permitindo que a organização forneça assistência direta a famílias em situação de extrema pobreza.

A obra teve grande repercussão após um evento de autógrafos promovido pela Secretaria de Educação de Juatuba, que deu visibilidade ao projeto e impulsionou as vendas. Com os recursos arrecadados, a associação realiza diversas ações humanitárias, como a distribuição de alimentos, ajuda a famílias que precisam enterrar entes queridos e apoiar pessoas que necessitam de tratamento médico de alto custo.

“Hoje mesmo tivemos um pedido de ajuda de uma moça que enfrenta um sarcoma e precisa viajar até a Namíbia para fazer uma cirurgia. Os custos são altíssimos e ela não tem condições de arcar com a despesa. Por isso, mobilizamos as redes sociais para arrecadar fundos”, explica Eriane.

A parceria entre a professora e o influenciador tem mostrado resultados concretos. Com mais de 350 mil seguidores no instagram, Clinthon utiliza seu alcance digital para divulgar as campanhas da associação.

A realidade da fome em Angola

A fome e a miséria são problemas de longa data em Angola. Apesar de Luanda ser uma das capitais mais caras do mundo, grande parte da população sobrevive com menos de R$ 100 por mês.

“Angola é um país de extremos. Há uma população pequena e riquíssima, enquanto a maioria enfrenta condições de vida extremamente precárias. Muitas pessoas vivem em cabanas improvisadas na praia, sem acesso a itens básicos, como comida e água potável. Algumas famílias passam até três dias sem se alimentar”, relata Eriane.

Diante desse cenário, a associação tem priorizado a entrega de refeições para pessoas em situação de vulnerabilidade. Em um dos últimos meses, a organização arrecadou R$ 350, valor que, embora modesto, foi suficiente para oferecer alimentação a diversas famílias. Além disso, algumas pessoas já conseguiram sair da miséria extrema com o apoio da associação.

“Uma família conseguiu abrir um pequeno negócio de vendas e tem prosperado. Outras pessoas, que antes estavam em situação de rua, agora contam com ajuda para conseguir comida e água. O trabalho ainda é pequeno, mas temos feito o possível para impactar vidas”, explica Eriane.

Além da distribuição de alimentos, a associação também se mobiliza para divulgar casos de pessoas desaparecidas e promover campanhas de arrecadação para tratamentos médicos. “As ações são simples, mas a gente vê o impacto na vida das pessoas. Cada pequena ajuda conta”, reforça.

Solidariedade no Brasil

O trabalho social de Eriane não se restringe a Angola. No Brasil, a professora também participa de iniciativas solidárias. Sua mãe, Maria Laura, coordena a arrecadação de doações de roupas e calçados para comunidades carentes do norte do estado de Minas Gerais. Cerca de quatro vezes ao ano, as doações são enviadas para famílias que já aguardam ansiosamente pelos itens.

Além disso, a professora se une a amigos e colegas para prestar assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade.

“As pessoas aqui no Brasil também precisam de ajuda. Já arrecadamos valores para famílias que perderam entes queridos, ajudamos mães que enfrentam dificuldades e participamos de diversas iniciativas sociais. No entanto, a minha maior preocupação é com a arrecadação financeira, pois é através disso que conseguir prestar assistência eficaz, especialmente para as famílias em Angola”, explica.

Eriane sonha em expandir a atuação da associação para outros países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), como Moçambique, onde o cenário de extrema pobreza também se faz presente.

“Gostaria muito que nossa associação pudesse abraçar mais famílias pelo mundo. Sei que isso só será possível se conseguirmos mobilizar mais pessoas e ampliar a venda do livro, porque esse é o meu propósito”, afirma.