Sem apoio da prefeitura, projetos e entidades se esforçam para despertar interesse de atletas pelo esporte

Presidentes de entidades e atletas alegam que o esporte “está em plena decadência e que Juatuba está longe de ser considerada amiga do atleta”

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Com a falta de incentivo e o baixo investimento da prefeitura em projetos de esporte em Juatuba, resta às entidades, pessoas físicas e empresários, tentar levantar o esporte na cidade e alçar atletas ao reconhecimento e às conquistas.

Um dos protagonistas deste trabalho de incentivo ao esporte é a Liga Eclética Esportiva de Juatuba, que sempre realiza campeonatos profissionais e amadores na cidade, com o apoio de parceiros e empresários. Recentemente, a Liga realizou a 21ª edição do Campeonato Municipal de Veteranos, novamente sem o apoio do executivo municipal.

De acordo com o presidente da entidade, Geraldo Ricardo de Lima, a prefeitura não apoia nenhuma competição da Liga e só é possível realizar projetos, graças ao auxílio dos times e empresários parceiros. “A falta de incentivo desse desgoverno é simplesmente por perseguição política. A Liga foi fundada há 30 anos e nunca deixamos de realizar as competições; sempre tivemos apoio de todos os prefeitos, independentemente da ideologia política. Isso ocorre simplesmente por eu ser presidente da Liga, e também do Sindicato dos Servidores, que defende a classe com unhas e dentes”, diz.

Geraldo revela que a Liga Esportiva ingressou com ação junto ao Tribunal de Contas da União, “para demonstrar e denunciar a prefeitura diante da perseguição que vem sendo vítima, mostrando que os convênios estavam todos corretos, e o prefeito dando desculpas para não ajudar o esporte de Juatuba”. “Vamos continuar fazendo os campeonatos que o povo mais gosta, independentemente da ajuda da prefeitura ou não. Vamos adiante com os campeonatos veteranos e amadores com a ajuda da iniciativa privada e dos próprios desportistas”, afirma.

Ao Jornal de Juatuba e Mateus Leme, Geraldo disse ser contra o investimento de campeonatos com entidades de fora do município, principalmente se for pago um valor exorbitante, como no caso da Copa Brasileirinho.

“Eu sou contrário, porque é um torneio onde se põe muito dinheiro para pessoas de fora. A Liga já trouxe competições de alto nível para a cidade com um valor muito menor, inclusive com participação do Cruzeiro, Atlético, Flamengo e Corinthians. Exemplo é a taça BH de futebol, que é feita pela Federação Mineira. O problema é que se paga muito para gente de fora e para quem é daqui, sobram migalhas”, finaliza.

Basquete.com

Outro projeto que desempenha um trabalho esportivo na cidade é o Basquete.com, realizado pelo Instituto Aspa, que está levando aulas gratuitas para 120 crianças e adolescentes matriculados em escolas públicas. 

De acordo com Lessandro de Freitas, professor do Instituto Aspa, o interesse das crianças pela modalidade esportiva é uma novidade para a região. “É uma prática esportiva que eles não conheciam muito. Aqui em Juatuba, o vôlei é forte também, mas não tinham aulas de basquete, e é muito bacana ver o desenvolvimento deles”, destacou Lessandro.

Segundo o professor, o envolvimento das crianças com o projeto vai muito além das quadras. “A gente também trabalha com eles e com as famílias temas transversais como honestidade, combate ao bullying e espírito esportivo e é muito legal conversar com os pais e professores e perceber a evolução deles”, afirmou Felipe.

Juliana, mãe de dois alunos das aulas de basquete, confirma a empolgação das crianças com o esporte e o impacto que as aulas têm na vida deles. “Até eu peço para entrar no jogo, porque é muito legal. Eles conheciam pouco o basquete, mas estão amando. Meus sobrinhos e nossos vizinhos também fazem a aula e acaba virando um grande programa de família e amigos. É uma grande pena que essa e outras modalidades não sejam incentivadas pela prefeitura”, enfatiza Juliana Nogueira.

Essa e outras 117 iniciativas esportivas em Minas Gerais receberam patrocínio da Vale, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. Para participar das aulas de Basquete do Instituto Aspa basta se inscrever pelo telefone (27) 99898-5883.

“Não recebemos qualquer apoio do poder público”

Outra entidade que faz um belo trabalho de conscientização através do esporte é o Instituto Ícaro Miguel, que leva o mesmo nome do atleta reconhecido internacionalmente, por várias conquistas na modalidade Taekwondo. O Instituto foi fundado em julho de 2021, para ajudar jovens esportistas do município a garantirem treinamento gratuito em Taekwondo e, segundo o idealizador, o projeto atende hoje 80 crianças e adolescentes. Além da modalidade esportiva, o Instituto oferece aulas de reforço escolar e vai começar a ofertar aulas de Inglês.

Ícaro Miguel destaca ainda que todas as despesas com o projeto, como pagamento do profissional que vai treinar os alunos, aluguel da sede e também as taxas de funcionamento são pagas com recursos próprios e parcerias com algumas empresas.

“Não recebemos qualquer apoio do poder público, o projeto funciona 100% com apoio da iniciativa privada. Acredito ser necessário ter iniciativa da prefeitura, porque estamos fazendo o que eu acredito ser de responsabilidade dos órgãos públicos, mas como eles não fazem, me sinto no dever de retribuir pelo menos um pouco do que o esporte me concedeu e acabo fazendo pelas minhas próprias mãos”, relata Ícaro.

Ainda segundo o esportista e mentor da iniciativa, Juatuba está longe de ser uma cidade amiga do atleta. Ele conta que desde criança, quando começou a treinar Taekwondo teve que praticar a modalidade na cidade vizinha, em Betim, exatamente porque a cidade não tinha nenhuma iniciativa da modalidade.

“Além de Juatuba não ter me oferecido a oportunidade de fazer a modalidade aqui, nunca me deu qualquer suporte quando comecei a competir e me destacar. Juatuba é uma cidade esquecida do esporte”.

O atleta revela ainda que não vê problemas de o município fazer parcerias com outras cidades, como no caso da Copa Brasileirinho. “É interessante essas parcerias entre prefeitura, entretanto, Juatuba deve arrumar a casa primeiro e estar com seus projetos de esportes em andamento. Primeiro arruma-se a sua própria casa para depois arrumar a do outro”, assevera.

Para participar ou fazer doações ao Instituto, basta entrar em contato pelo telefone (31) 9.9632-1901 ou pelo e-mail: contato@institutoicaromiguel.com

“Falta mais respeito e importância com a Capoeira”

A Capoeira em Juatuba começou antes mesmo da emancipação e os pioneiros foram o Mestre Poeta, ainda vivo e o mestre Maurão e Mestre Sarará.  Mesmo sendo uma atividade cultural, há raízes com o esporte, já que os movimentos trabalham o corpo e o físico.

Segundo Mestre Israel, fundador e presidente da Universidade Brasileira de Capoeira, Artes Maciais, Inter Estilos e Terapias Orientais, todas as modalidades esportivas estão em plena decadência na  cidade, mas em particular, os grupos de capoeira não recebem nenhum incentivo. Israel citou o exemplo do Grupo do Professor Grilo, que funciona em parceria com a Paróquia de São Sebastião.

“Esse grupo que é amparado pelo Frei Ismail, não recebe nenhum apoio da prefeitura, seja para lanche, transporte ou local para treinos. Até o local que tínhamos em Francelinos, a prefeitura cortou, segundo conversas, simplesmente porque somos oposição ao atual governo”, revela.

Mestre Israel diz ainda que a Capoeira cresceu muito na cidade somente pela força de vontade dos mestres e da comunidade. “Temos também o Mestre Semente, que faz um trabalho magnifico na periferia. Posso dizer com tranquilidade que a Capoeira conta hoje com a participação de 350 pessoas, que não tem amparo nenhum da prefeitura, seja para competições dentro ou fora da cidade”.

O criador da Universidade lembra ainda que desde a fundação da unidade, há 25 anos, não houve nenhum apoio político. “Em nenhum tempo houve, o que me deixa extremamente triste. Recentemente fomos em uma competição que ocorreu na cidade de Medina-MG, onde tivemos um grande apoio do município, com alimentação, transporte e todos os políticos da cidade estavam presentes, inclusive o prefeito. Diferentemente daqui, que ninguém dá importância”.

No ano passado, Mestre Israel realizou na Câmara, um evento que contou com a participação de diversos Mestres do Brasil, inclusive com a distribuição de títulos. O evento só foi realizado porque a Câmara cedeu espaço para que ele ocorresse. “A prefeitura não ajudou com nada e o prefeito sequer apareceu”, conta.

A reportagem tentou contato com a prefeitura para saber sobre os investimentos da Secretaria de Esportes nas modalidades, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.