A palavra ‘cancelado’ tomou uma dimensão bastante usual nos últimos tempos. Quando a pandemia da Covid-19 atinge números exorbitantes de infectados e de mortes, cancelam-se eventos, encontros entre amigos, abraços e há quem diga, usando de gíria pouco comum à maioria das pessoas, que a doença vai promovendo outros tipos de cancelamentos irreversíveis.
Por enquanto, estamos falando dos cancelamentos de eventos festivos, de lazer e de cultura, já há quase dois anos, desde que as autoridades sanitárias perceberam a gravidade da pandemia do coronavírus. Não é novidade a situação difícil, do ponto de vista financeiro, dos artistas e promotores de eventos artísticos e de entretenimento, desde o momento em que a principal recomendação foi a de cancelar as aglomerações. Pediram-se o mínimo contato físico entre pessoas que não vivem na mesma casa. A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou.
Mateus Leme que é regionalmente reconhecida por seus eventos culturais, vivencia dias difíceis, como tantos outros municípios, com a ausência de atividades de arte, lazer e entretenimento, que antes ocupavam o calendário durante parte do ano. Além de entretenimento, esses eventos eram também fonte de renda para diversos profissionais, da música, do teatro, da dança, dos feirantes, da decoração, das floriculturas, da gastronomia e principalmente do comércio na cidade.
Quase dois séculos
Neste ano, a Cavalhada completou 141 anos e a representação das batalhas do século VI, entre mouros e cristão, aconteceu de forma muito tímida. Na cidade, a tradição passada de pai para filho e de geração a geração, sempre teve cavalos enfeitados com flores e vinte e quatro cavaleiros divididos: os mouros, usando a cor vermelha, enquanto os cristãos se vestem de azul. E junto à tradição, os fiéis festejam Santo Antônio e São Sebastião.
A festa organizada pela Associação Cavalhada de Santo Antônio, sempre atraiu centenas de pessoas de todo o estado e movimentava a cultura local. Na última semana, foi exibida virtualmente na página da prefeitura e, para não deixar a tradição morrer, a Associação realizou uma pequena passeata com os cavaleiros, sem a presença de público.
A situação do cancelamento momentâneo da vida cultural na cidade foi destacada pelo Presidente da Cavalhada de Mateus Leme, João Diniz. Segundo ele, a passagem da bandeira de Santo Antônio foi paralisada devido a pandemia e a bandeira segue guardada, esperando o momento de fé e tradição voltar a ocorrer. “Ao todo são mais de 100 pessoas envolvidas no evento, como a banda de música, os corredores, os 14 membros da Associação, os festeiros e os barraqueiros, que já não se encontram há quase dois anos”, explica.
Por mais que a Cavalhada seja a mesma todos os anos, o momento é mágico e ansiosamente aguardado. “Ficamos tristes e frustrados, porque não ocorreu o evento com todo movimento que estamos acostumados. Mas reinventamos a festa e inovamos: realizamos o cortejo a cavalo durante o dia, desfilando pelas ruas com os palhaços, as princesas e a participação da banda. Procuramos não deixar apagar a memória da cavalhada, mas tudo com cautela e distanciamento”.