Quase um mês depois da queda da passarela na BR-262, em Juatuba, ocorrida no dia 25 de junho, os moradores dos oito bairros no entorno da região têm vivenciado um pesadelo em suas rotinas diárias. A passarela, localizada no trecho que corta os bairros Veredas e Dona Francisca, foi danificada após uma carreta retroescavadeira atingi-la acidentalmente e, desde então, os moradores correm risco de morte quando exercitam o seu direito de ir e vir. Para se locomoveram, eles precisam atravessar a rodovia que possui intenso fluxo de veículos pesados como caminhões, ônibus e carretas. A velocidade na via chega a 110 km, o que dificulta ainda mais o trânsito de pessoas com mobilidade reduzida como idosos, deficientes e crianças.
Desde a queda da passarela, a população tem feito inúmeros protestos com ampla cobertura da mídia. A repercussão nacional do problema foi intensificada após uma série de manifestações e coberturas jornalísticas de grandes redes veículos da imprensa. Na semana passada, a Rede Globo esteve no local acompanhando a manifestação e, nesta quarta-feira (17), foi a vez da Rede Record registrar o drama dos moradores que têm sido forçados a atravessar a BR-262 sem proteção adequada.
A técnica de enfermagem, Rayane Isolina, expressou sua indignação com a falta de sinalização e segurança, especialmente para idosos e pessoas com deficiência, que necessitam atravessar a rodovia frequentemente. “Estamos nos arriscando com crianças de colo e idosos. Estamos sufocados com a situação que vivemos aqui”, desabafou.
Dona Maria, cujo filho foi gravemente ferido em um acidente na BR-262, compartilhou sua experiência. “Meu filho ficou entubado no hospital João XXIII. Estamos vivendo um pesadelo por causa dessa situação”, desabafou.
Moradores pedem a construção de um viaduto e retorno
Os moradores têm exigido a construção de um viaduto e a implementação de um retorno que encurte a distância entre os lados divididos pela BR-262. Para chegar ao centro de Juatuba, que está apenas há 6 km, eles precisam seguir até o bairro Francelinos para retornar, o que aumenta a distância para 18 km, ou seja, ela fica três vezes maior.
“Se a gente pede um mototáxi, paga duas vezes mais caro porque não tem um retorno e a quilometragem é grande. Se você precisa de um Uber para levar uma criança no hospital ou se passa mal, o SAMU demora mais de uma hora para chegar”, diz a moradora indignada.
A situação compromete o atendimento a serviços essenciais, como saúde e educação. É o caso da Marcilene, que precisa levar o filho Maciel, de sete anos, três vezes por semana para fazer tratamento em Belo Horizonte. Pela falta de retorno, ela e o filho são deixados do outro lado da BR 262.
A reportagem flagrou pedestres se arriscando para atravessar a rodovia. Dentre eles, uma mulher e uma criança tentando pular a mureta do canteiro central e, em outro registro, três mulheres, incluindo uma idosa, tendo que correr para atravessar para o outro lado. “Estamos arriscando a própria vida”, disse a moradora ao repórter.
Para ilustrar a dificuldade, a equipe de televisão fez a travessia do local e cronometrou o tempo médio que cada pessoa leva para chegar do outro lado, no meio do intenso tráfego. “Olha o fluxo de veículos, principalmente, carretas e ônibus”, disse o jornalista apontando para os veículos pesados. No canteiro central, ele mostra uma vala que representa outro perigo para os moradores, onde um morador idoso caiu por não perceber o declive. Mais adiante, o repórter precisou subir o muro que corta o canteiro e aguardar no canto da outra via, o momento oportuno para atravessar com segurança.
“Muito perigosa esta travessia gente, é muito rápido. A gente até perde a noção da velocidade dos veículos e gastamos quase um minuto e 19 segundos para atravessar. Um risco enorme”, exclamou.
O perigo é mais grave pela falta de iluminação e sinalização, que coloca quem necessita atravessar à noite em estado de vulnerabilidade ainda maior. “Quem precisar de atravessar aqui à noite tem que enfrentar a escuridão, correndo risco de assalto”, disse outro morador.
Histórico de Intervenções
Este não é o primeiro problema enfrentado no local onde está instalada a passarela. Em 2022, a estrutura foi danificada devido a problemas com o talude adjacente. Segundo a empresa, naquela ocasião, a concessionária também tomou medidas para garantir a continuidade do acesso dos pedestres, instalando uma escada provisória que permitia a travessia, enquanto a obra de reconstrução era realizada. A solução encontrada foi a implementação de uma “cortina” de concreto para estabilizar o talude e evitar futuros danos.
Em reposta ao Jornal, a Triunfo Concebra, anunciou o início da construção da passarela provisória nesta quinta-feira (18), com previsão de entrega na próxima semana, mas não precisou a data. Sobre a construção do viaduto e o retorno, a concessionária informou que estas obras não estão previstas contratualmente.