A cultura africana em Mateus Leme está em festa para celebrar os 50 anos de sacerdócio de Marcos Adelino Ferreira, conhecido no Candomblé como Tatetu Arabomi. Uma série de homenagens e eventos estão sendo realizados, unindo a comunidade religiosa do município e região.
As comemorações tiveram início este mês, com um almoço de confraternização e reuniões para organizar a grande festa, que será realizada no dia 17 de maio. Segundo Pai Ximeango, líder do Bankise Mona Ixi, estão sendo preparadas oficinas de artesanato, exibições de vídeos e fotos, contando a história do terreiro e do sacerdote homenageado.
Entre as atividades previstas, destaca-se a exposição de objetos e registros históricos da comunidade do terreiro Bakise Banto Kasanje. A celebração também se expandirá até a avenida, onde o bloco Carna Afro Mona Ixi levará no Carnaval de Mateus Leme, um estandarte em referência ao cinquentenário do líder espiritual.
Uma vida dedicada à cultura afro
Natural de Belo Horizonte, Marcos Adelino Ferreira nasceu em uma família com três irmãos e uma irmã. Seu contato com a religião aconteceu ainda na infância, quando conheceu a umbanda aos oito anos. Aos 14 anos, teve seu primeiro contato com o candomblé e, dois anos depois, em 2 de fevereiro de 1975, foi iniciado na tradição no terreiro Netos de Mineiro, sob orientação do Tatetu Kissimbe, em Belo Horizonte.
Após cumprir suas obrigações no terreiro, recebeu o chamado para abrir sua própria casa em 1983. Em 1984, inaugurou o primeiro terreiro no bairro Santa Cruz, onde permaneceu até 1988. Posteriormente, mudou-se para uma sede própria, onde ficou até 1996. Foi então que transferiu as instalações para Mateus Leme, construindo o terreiro Bakise Banto Kasanje. Neste mês, ele celebra 50 anos de iniciação no Candomblé Angola/Kongo e 42 anos à frente do BBK.
Atualmente, o Bakise Banto Kasanje possui várias filiais espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Em Minas Gerais, além de Mateus Leme, está presente em cidades como São Joaquim de Bicas, Sarzedo, Ibirité, Juatuba, Santa Luzia, Belo Horizonte, Divinópolis, Montes Claros e São Francisco.
No Brasil, também há unidades em Brasília e Águas Lindas de Goiás. Internacionalmente, o legado do BBK chegou até Sevilha, na Espanha.
A tradição religiosa do terreiro se baseia no culto às divindades da natureza e na preservação ambiental. Segundo Tatetu Arabomi, todos os elementos naturais são sagrados, pois representam a morada dos Inkisi e Orixás. Além disso, a religião presta culto aos ancestrais, através de oferendas como alimentos, frutos, mel, flores e bebidas, sempre acompanhadas de cânticos e danças ao som dos tambores.
Influência e desafios
O impacto das religiões afro-brasileiras na cultura nacional é inegável. “Elas se manifestam através da música, da dança, da culinária, das artes em geral, do vestuário e estão incorporadas na língua brasileira no próprio jeito de ser do povo brasileiro”, explica o sacerdote Tatetu Arabomi.
Para ele, a maior conquista é ver sua semente plantada florescer, dando frutos e se tornando uma raiz de referência e respeito. “O terreiro é um espaço construído para o coletivo, um local de acolhimento espiritual, social e religioso”, diz.
Entre os desafios enfrentados pelo Candomblé está a intolerância religiosa, fruto do preconceito e da desinformação. Para combater isso, o BBK desenvolve projetos de conscientização. “Procuramos ações afirmativas que possam desconstruir essas barreiras, levando informações para a comunidade e, principalmente, nas escolas”, diz o líder.
Ao longo de sua história, o terreiro também tem atuado na área da saúde. “Já desenvolvemos projetos com plantas medicinais, rituais e aromáticas e, na área cultural, com palestras, exposições e oficinas de culinária afro brasileira, de indumentárias, de cantos e danças e roupas afro”, detalha.