O vereador Reginaldo Teixeira, de Mateus Leme, foi preso esta semana sob acusação de participação em homicídios e crimes na cidade. A operação comandada pela Polícia Civil ocorreu na manhã de terça-feira, 23, e o vereador foi detido preventivamente pelo prazo de 30 dias. Além da prisão, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em oito endereços ligados a Reginaldo, entre eles imóveis de familiares.
De acordo com informações da delegada responsável pela prisão, Lígia Barbieri Mantovani, há indícios do envolvimento do vereador de 44 anos em três homicídios. Além disso, há suspeita de que ele tenha ligação com o tráfico de drogas na cidade. Os dois primeiros homicídios, um em dezembro de 2004 e o outro em julho de 2008 teriam ligação com o tráfico. Já o último, ocorrido em maio de 2019, a vítima foi um motorista da prefeitura, que seria cabo eleitoral do vereador. O crime teria motivação política, funcionando como “queima de arquivo”.
Outros quatro homicídios ainda seguem em investigação com suspeita de participação de Reginaldo. Segundo informações da Polícia Civil, os crimes tiveram o mesmo modo de agir, o que indica que a autoria seja a mesma. A delegada destacou ainda que a apuração dos fatos foi difícil, uma vez que as testemunhas tinham medo de se pronunciar e sofrer retaliações. O inquérito do crime de 2004 já foi concluído e enviado à Justiça. Os outros dois permanecem em aberto, mas, com a prisão do suspeito, devem ser finalizados em breve. “Ele é muito temido na cidade, tanto pelas pessoas, quanto pelas autoridades locais. É uma pessoa que falava a todo momento que, com ele não acontecia nada. Com a prisão, várias testemunhas novas vão surgir para ajudar na elucidação dos outros inquéritos policiais”, afirmou Lígia. Durante a operação, foram encontrados nos imóveis do vereador vários pen drives, R$12,4 mil em dinheiro e cerca de R$128 mil em cheques. Para encontrar Reginaldo, a polícia precisou arrombar a casa em que ele estava, já que o vereador não atendeu ao chamado. Os policiais de Mateus Leme contaram com o apoio do segundo departamento da Polícia Civil, com base em Contagem, e da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE). A força tarefa teria sido necessária diante de ameaças do acusado contra a vida de policiais e outras autoridades da cidade. “Ele estaria afrontando nesse momento, ao saber da conclusão dessas investigações, o Estado e as autoridades locais, inclusive delegados de polícia, com ameaças”, revelou a delegada.
Quando chegou à delegacia, Reginaldo conversou com repórteres. Perguntando se tinha algo a dizer em sua defesa, ele afirmou: “Essa delegada é doida, se ela quiser, ela prove. Ela é doida”. Sobre a acusação de envolvimento com o tráfico, exaltado, ele disse: “É ruim, hein? Eu sou contra o tráfico”. A defesa do vereador, representada pelo advogado Éderson Pereira, declarou que Reginaldo se declara inocente e que é preciso verificar as provas imputadas contra ele no inquérito. “O que vai sustentar essa questão dos homicídios é a materialidade, os depoimentos, aos quais nós ainda não tivemos acesso. O momento é de muita prudência e cautela, porque pode ser que exista por parte dessa investigação algum tipo de excesso ou informações desconexas”, afirmou o advogado. Ele acredita ainda que o cliente pode estar sendo vítima de inimigos políticos.
Histórico
Antes de atuar em cargo público, Reginaldo trabalhou como voluntário na Delegacia de Polícia Civil de Mateus Leme, em 2004. A suspeita é que já nessa época ele repassava informações privilegiadas sobre investigações de crimes a comparsas. Ele também trabalhou como carcereiro e, posteriormente, assumiu o cargo de diretor do Presídio de Juatuba. Ele estava no segundo mandato como vereador de Mateus Leme e foi eleito pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC). Recentemente, se filiou ao Solidariedade, partido do qual era presidente no município. Ele foi o parlamentar mais votado em 2016, com 721 votos. Na primeira vez em que foi eleito, o vereador exerceu ainda o cargo de presidente da Câmara. Em nota, o Solidariedade afirmou que não pode responder por atos individuais de filiados e que defende a apuração dos fatos pelos órgãos competentes. Em contato com a Câmara de Mateus Leme, a reportagem foi informada de que a casa não irá se posicionar e que medidas devem ser adotadas somente após o recebimento de notificação judicial sobre a prisão.
Como se trata de crime cível e o vereador ainda está em prisão preventiva, a perda do mandato dependerá do regimento interno da Câmara. Caso Reginaldo seja deposto ou afastado do cargo, quem o substituirá será Noêmia Pereira de Carvalho, de Serra Azul, que também disputou as eleições de 2016 pelo PTC.