A luta diária dos profissionais de saúde que estão na linha de frente contra a Covid-19

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Muito tem se falado sobre a importância dos profissionais da área da saúde neste momento e é fácil imaginar que o trabalho deles, já árduo, ficou ainda mais difícil com a chegada da pandemia da Covid-19. A rotina intensa de cuidados dentro e fora das unidades de saúde é exaustiva, a saudade de familiares e amigos é grande, mas são eles que garantem que os danos dessa doença sejam menores. Eles são a família de quem está internado e sofrem junto com aqueles que estão do lado de fora dos muros de cada hospital.

Nesta semana, mais do que falar sobre a dificuldade desses profissionais, o JORNAL DE JUATUBA E MATEUS LEME quis ouvir. Conversamos com duas enfermeiras que estão na linha de frente da saúde em Mateus Leme e elas nos contaram um pouco sobre o turbilhão de mudanças pelas quais tem passado nos últimos meses. O relato de cada uma delas você confere abaixo.

Patrícia Cristina tem 38 anos e além de enfermeira, coordena equipes na UPA e no Hospital de Campanha. Os muitos cuidados adotados dentro das unidades onde ela trabalha, são redobrados quando chega em casa. A segurança do marido e dos dois filhos, de seis e três anos, é sua maior preocupação. A saudade de visitar a mãe também é grande e ela não vê a hora de retomar os encontros diários.

“Desde o inicio da pandemia, minha rotina é da UPA para casa. Mais na UPA e no Hospital de Campanha do que em casa, na verdade. E mudou tudo: uma mudança tanto técnica, quanto psicológica. Você está ali, lindando com a pandemia toda e à frente, a todo momento, chega um suspeito ou caso confirmado. A gente tem que saber trabalhar o psicológico, principalmente nós que estamos à frente das equipes, para deixá-las mais seguras.

O cuidado em casa é redobrado. Deixo o uniforme na unidade, já tomo banho lá mesmo, deixo álcool dentro do carro e, assim que entro em casa, higienizo os calçados e a roupa, porque, mesmo que a gente não saia da unidade com uniforme, tem que tomar cuidado. Eu ia à casa da minha mãe todos os dias, hoje já não vou porque ela é idosa, e não levo os meninos lá também. Também não vou à casa de parentes. Para todo mundo a vida mudou, mas para gente é um pouco pior, porque estamos na linha de frente.

Essas duas semanas em que o número de pacientes em Minas está aumentando, também estamos percebendo o crescimento dos casos aqui na cidade. É um momento difícil quando você vê o que está acontecendo. Antes, só via reportagem de outros países e estados, agora estamos aqui e vemos que não é brincadeira. Diante de pacientes que agravam rapidamente, de um dia para outro, vemos o sofrimento dos familiares. Você sofre junto com a família que vê a perda de um familiar, antes mesmo do exame ser confirmado e nem pode se despedir. É um quadro muito triste.”

A rotina de Cíntia Danielle Santos, de 31 anos, envolve uma viagem de quase 25 km. Ela mora sozinha em Itaúna, trabalha como enfermeira no Hospital Santa Terezinha e agora atende também no Hospital de Campanha. Manter a distância da mãe que vive na mesma rua, é uma das dores de Cíntia nesta pandemia. Ela teve que enfrentar também o medo de que sabia que ela era enfermeira e tinha receio de ser contaminado e o desrespeito de amigos frente ao isolamento.

“Com relação à rotina, eu moro sozinha em Itaúna, mas minha mãe tem doença crônica e moramos na mesma rua. Fiquei cerca de um mês e meio sem ir à casa dela. Se alguém me chama para ir a algum lugar, a consciência pesa. Não posso ir e pedir para todos ficarem em casa. Outras vezes, vemos pessoas do nosso próprio círculo de amizade não respeitando o isolamento.

Trabalhar na linha de frente é ficar distante das amizades e da família também, pois o medo nem é de pegar a doença, mas de passar o vírus para alguém. Muita gente olha estranho quando encontra com a gente na rua. Eu passei por isso no prédio em que moro; vizinhos me viam chegando e fechavam a porta do elevador para não ir junto.

Acho que todo mundo precisa respeitar o isolamento social e se conscientizar que aglomeração compromete a saúde não só de quem convive com a gente, mas da pró¬pria pessoa e dos profissionais de saúde, porque aumenta o número de casos. Se aumenta o número de casos, aumenta também o risco de infecção. Quem não respeita o isolamento, desrespeita a gente enquanto profissional.”

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