Adônis diz que valores propostos pela Vale para a construção das unidades de saúde são “descabidos”

“O valor da UBS, na planilha da Prefeitura de Juatuba, é de R$ 1,6 milhão. Só que a Vale está falando em R$ 12 milhões em cada uma. Com R$ 12 milhões, eu faço quase as sete que preciso”

0
428

Diversos prefeitos das cidades banhadas pelo Paraopeba têm se queixado dos orçamentos feitos pela mineradora Vale para as obras que a empresa vai realizar nos municípios a título de reparação pelo rompimento da barragem de Brumadinho. De acordo com os gestores dos municípios, os valores apresentados pela mineradora estão exorbitantes. Com a alta dos orçamentos feitos pela mineradora, as lideranças estudam recorrer ao Ministério Público, diante da suspeita de superfaturamento.

O acordo destina R$ 2,5 bilhões dos R$ 37,6 bilhões totais para obras e ações em 26 municípios da Bacia do Rio Paraopeba atingidos pelo rompimento. Após uma consulta pública junto à população, as prefeituras indicaram as prioridades e a Vale está apresentando o orçamento dessas intervenções.

Em Juatuba, a Vale sugeriu executar R$ 12 milhões para construir cada uma de sete Unidades Básicas de Saúde previstas, o que é avaliado pelo prefeito Adônis Pereira como descabido. “O valor da UBS, na planilha da prefeitura é de R$ 1,6 milhão. Só que a Vale está falando em R$ 12 milhões cada uma. Com R$ 12 milhões, eu quase faço as sete que preciso”, afirmou Adônis.

Ainda de acordo com o prefeito, os líderes municipais estão sem entender a postura adotada pela mineradora. Segundo ele, a diferença de R$ 1,6 milhão para R$ 12 milhões é superior a 500%. “Está todo mundo assustado, sem entender se a Vale quer tumultuar para ganhar tempo ou se não quer fazer as obras e entregá-las prontas. Com esses valores absurdos, não autorizo nenhuma obra no município, porque não sei como vai ser o dia de amanhã”, afirmou.

Outro prefeito que questionou a mineradora foi André Melgaço, de Pequi. Ele disse que a mineradora propôs gastar R$ 74 milhões para construir três praças e reformar outras sete. Segundo o gestor, os custos estão totalmente fora do normal. “Eu respondi à Vale dizendo que parece que eles estão brincando. A gente estava prevendo de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões para as obras nas praças, e eles colocaram R$ 74 milhões, podendo chegar a R$ 92 milhões”, afirmou André.

Já o prefeito de Três Marias, Adair Silva, classificou os orçamentos da Vale como impraticáveis. “É impossível a gente autorizar no preço deles. Para construir um aterro sanitário, o orçamento deles é de R$ 41 milhões. É impossível uma cidade de 35 mil habitantes gastar isso. Eu construiria o aterro por R$ 10 milhões ou menos”, argumentou o prefeito.

Obras serão auditadas

As obras nas cidades selecionadas serão executadas pela própria mineradora e não pelas prefeituras. Antes disso, no entanto, a empresa precisa elaborar um documento chamado Formulário de Detalhamento da Iniciativa, em que é necessário determinar o custo estimado dos projetos e o cronograma das obras. É esse documento que foi enviado pela Vale às prefeituras de Juatuba, Pequi e Três Marias, com os valores acima do mercado.

Os órgãos públicos que assinaram o acordo com a Vale, como os ministérios públicos Federal e de Minas e a Defensoria Pública, têm que aprovar os FDIs antes do início das obras. Porém, tanto o governo de Minas quanto o MPF argumentam que, antes, os orçamentos e os planos de ação devem ser analisados por uma auditoria da Fundação Getúlio Vargas. O MPF e o governo vão se posicionar após essa auditoria. A FGV informou que o prazo é de 30 dias para emissão do parecer técnico.

Outro Lado

Por meio de nota, a Vale esclareceu “que o detalhamento dos projetos socioeconômicos indicados pelos compromitentes do Acordo de Reparação Integral apresenta uma estimativa de custos, assim como cronograma, viabilidade técnica e financeira, escopo e resultados esperados”.

Ainda segundo o comunicado, “durante a fase de detalhamento tem ocorrido rodadas de interação entre a Vale, os municípios e o Estado. Conforme previsto no acordo, o escopo e orçamentos, assim como demais informações que integram o detalhamento, são apresentadas pela Vale aos Compromitentes para aprovação, apoiados pela auditoria socioeconômica independente”.

A Vale pontua ainda que “em relação aos projetos mencionados nesta matéria, a empresa ressalta que nenhum valor foi liberado, transferido, empenhado ou desembolsado, sujeitando-se ao fluxo acima mencionado”.

Por fim, a empresa explicou que “a gestão de recursos do Acordo de Reparação Integral é objeto de permanente fiscalização das Instituições de Justiça, Estado de Minas Gerais, com apoio das auditorias independentes”.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

dois × três =