Acontece anualmente no dia 25 de janeiro, data em que se recorda a tragédia-crime do rompimento da barragem de rejeitos de responsabilidade da mineradora Vale, em Brumadinho, a Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho.
O evento religioso que está em sua quarta edição começou nesta quarta-feira e segue durante todo final de semana. A Romaria é realizada pela Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), da Arquidiocese de Belo Horizonte, junto às pastorais e movimentos sociais, Assessorias Técnicas Independentes, entidades da sociedade civil organizada e pessoas atingidas.
O ponto alto da Romaria foi a celebração da missa, presidida por Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, na Igreja Matriz de São Sebastião, em Brumadinho. Seguido por uma caminhada até o letreiro na entrada da cidade, onde foi realizado o ato das famílias, organizados pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM).
De acordo com lideranças de atingidos de Juatuba, as famílias ribeirinhas do Rio Paraopeba, também participaram da romaria destacando a importância da luta, após a tragédia que ceifou a vida de 272 pessoas.
Memória, justiça e esperança
A romaria tem como proposta principal três eixos, sendo o primeiro que é o da memória das 272 joias. O segundo a necessidade de justiça, como um grito de denúncia contra a impunidade e em defesa dos direitos das pessoas atingidas e o terceiro, o marco da esperança de que novas alternativas de bem viver, pautadas no cuidado com os mais pobres e com o planeta, emerjam a cada dia. A água é o tema central da edição do presente ano, elemento vital à vida que também sofreu danos ao longo da bacia do Rio Paraopeba devido ao desastre-crime.
De acordo com a pesquisa amostral realizada pela Aedas, Assessoria Técnica Independente que acompanha as famílias atingidas em Brumadinho, 44% da coleta de água para consumo humano e subterrâneas nas comunidades dos municípios atingidos apresentaram alguma inconformidade físico-química devido à presença de alumínio, arsênio, bário, chumbo cobalto, cromo total, ferro, manganês, níquel, selênio, zinco, vanádio, lítio e urano. Também, 63% das coletas apresentaram alguma inconformidade bacteriológica, como coliformes. Ainda, 35% das amostras apresentaram potencial risco à saúde humana apenas pelo contato com a pele.
Rio Paraopeba contaminado
A contaminação do Rio Paraopeba, ocasionada pelo rompimento, estendeu as consequências do desastre-crime por centenas de quilômetros, despejando mais de 13 milhões de metros cúbicos de lama em seu leito e atingindo diretamente ao menos 26 municípios. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) recomenda que a água não seja utilizada para qualquer finalidade por uma extensão de aproximadamente 250 km. No entanto, a Vale, em reuniões com pessoas das comunidades atingidas, tem negado a existência de contaminação nos municípios da calha além do limite de Juatuba, contradizendo estudos das assessorias técnicas e as recomendações do próprio IGAM.
Na região de atuação da assessoria técnica Nacab, que atende comunidades situadas na calha do rio em 10 municípios, entre Esmeraldas e Paraopeba, pelo menos 1.177 pessoas pediram ajuda nos últimos anos por problemas relacionados ao comprometimento de suas fontes de água para consumo pós-rompimento. Um estudo do Nacab analisou 489 dessas fontes na região, entre poços, cisternas, nascentes, açudes, córregos e lagos, identificando 310 pontos com alterações nos parâmetros ferro, alumínio e manganês, o que torna a água imprópria para o consumo. Além dessas alterações, algumas fontes de água amostradas também apresentaram concentrações de outras substâncias químicas como chumbo e bário.
As análises ambientais também foram feitas continuamente entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2022 nos municípios atingidos assessoradas pelo Instituto Guaicuy – Curvelo, Pompéu e região do Lago de Três Marias. Nelas, foram verificadas alterações nos parâmetros físicos de qualidade da água do rio e das represas de Três Marias e do Retiro Baixo. Tais alterações mostram um maior grau de comprometimento dos ambientes até Pompéu, mas também foram observadas alterações ao longo do reservatório de Três Marias, onde o Rio Paraopeba deságua, região em que se concentram milhares de pescadores. De acordo com o Guaicuy, a insegurança em relação à água da represa tem causado diversos danos às comunidades pesqueiras, como dificuldades financeiras devido a drástica redução de demanda de pesca e problemas de saúde física e mental.