O significado dos catadores e carroceiros na reciclagem do lixo é significativo no país inteiro. Segundo um estudo do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, eles são responsáveis por quase metade da coleta seletiva no Brasil. Recolhem 43,5% do volume total de recicláveis das cidades e são principal agente de coleta, já que as prefeituras recolhem 18,7% do total e as empresas, 37,8%.
Em cidades de até 100 mil habitantes, os catadores são responsáveis por uma fatia ainda maior: 60,1%, de acordo com o mesmo estudo.
Conhecido por atuar sempre em defesa das famílias que dependem da reciclagem, o ex-vereador Mário Lúcio Vilaça, entrou em contato com a reportagem do Jornal de Juatuba e Mateus Leme para denunciar que os catadores informais correm o risco de ficar sem renda, pois “o prefeito Dr. Renilton Coelho, quer trazer uma empresa terceirizada para o município, que assumirá a separação de materiais recicláveis”.
Mário lembrou que quando era vereador havia um projeto em estudo em Mateus Leme para oferecer infraestrutura, além de local para a separação e até a possibilidade de um salário para os catadores.
”Infelizmente, o que o prefeito quer é tirar esses catadores do local e repassar para uma empresa terceirizada. Essa organização privada vai querer fazer a separação dos materiais e receber do município, além de não chamar nenhum catador para trabalhar”, denuncia Mário.
A reportagem foi até o aterro sanitário de Mateus Leme, conversar com os catadores sobre a informação repassada pelo ex-vereador. No local, identificamos diversos cidadãos que dependem da coleta para sobreviver. Há casos em que os trabalhadores têm mais de seis dependentes, entre crianças e idosos doentes, que vivem dos recursos gerados com a reciclagem.
Vamos roubar ou morrer de fome?
De acordo com uma das coletoras, que não quis se identificar com medo de represálias, não há necessidade de a prefeitura retirar a separação dessas pessoas simples. “Eles já coletam o lixo em caminhões abertos, a maioria do resíduo que chega aqui já não pode ser mais. Se isso sair daqui da cidade, e for colocado na mão de outra empresa, será ainda pior, pois passaremos fome”.
Outra completou, dizendo que não existe reciclagem sem o trabalho dos catadores no lixão. “Somos nós que trazemos de volta o material no ciclo de produção, transformando o que é considerado lixo em mercadoria novamente”.
Já a catadora Ana Maria Goncalves, 44 anos, fez questão de se identificar e afirmou que desde 2018 faz a separação de materiais recicláveis no local. “Coletamos para sobreviver, dependemos totalmente disso aqui, não viemos aqui por luxo. Eu por exemplo, estou com minha avó em cima da cama e não é justo tirar nosso sustento. Muitas famílias, inclusive amigos que têm criança pequena, precisam levar o leite para as crianças”, revela.
Ana diz que ao invés de tirar a oportunidade de quem precisa, o prefeito deveria oferecer uma estrutura adequada para a separação dos materiais pelos catadores, ou até mesmo criar uma cooperativa, igual existe em Itaúna. “Nós vamos roubar para ganhar dinheiro ou morrer de fome”, questionou indignada.