Um grupo de juatubenses tem se mobilizado para denunciar “o descaso e a irresponsabilidade do prefeito Adônis Pereira com a cidade”. A enfermeira Bruna Magalhaes Paiva, moradora de Juatuba há 33 anos contou que já presenciou enchentes no município, mas igual a última nunca tinha visto. Ela revela que quando fez o financiamento da casa própria, jamais imaginava que o ribeirão transbordasse e a água invadisse a residência. “A surpresa e tristeza foi grande, pois a água chegou a 1,40 de altura. Perdi todos os meus móveis e alguns eletrodomésticos. Além disso minha casa teve diversas avarias. Recebi a primeira parcela do aluguel social, da prefeitura, apenas na última semana, mesmo assim porque eu mesma corri atrás dos documentos, pois estou desalojada”, conta.
A enfermeira relata ainda que a indignação é grande, pois a aprovação de construção e liberação do imóvel passa pela prefeitura. Como que a prefeitura e os engenheiros aprovam um imóvel com possibilidade real de risco de inundação. Quando financiei jamais poderia imaginar que fosse ter esses prejuízos”.
A enfermeira queixou-se ainda da humilhação vivida pelos atingidos com a gravação de um vídeo em que o prefeito debocha da população. “Ele fez um vídeo debochando dos moradores que passaram pela situação de enchente e disse que as pessoas estavam cobrando dele, mas que ser humano nenhum tem o poder para fazer parar de chover. Realmente, na época não tinha algo a se fazer, mas o mínimo era um plano de ação e medidas preventivas, como a própria limpeza do ribeirão, que está sujo e assoreado há muito tempo”, finaliza.
“Nada de concreto”
O advogado e professor, Rogério dos Santos Souza, que tem 52 anos e mora em Juatuba há 29 anos, diz que “há muitos anos a cidade vem sofrendo com a irresponsabilidade dos gestores, mas que o atual prefeito em especial, tem sido o mais irresponsável”. A fala de indignação vem logo após as últimas chuvas, que devastaram Juatuba e deixaram avenidas, ruas e vias de terra intransitáveis. Segundo ele, os juatubenses são agora obrigados a conviver com muitos buracos, crateras engolindo ruas inteiras, pontes com risco real de desabamento, deslizamentos de encostas e rios completamente assoreados.
Em entrevista ao Jornal de Juatuba e Mateus Leme, o advogado relembrou uma denúncia que fez no dia 23 de maio de 2012, quando começou a construção da ponte do Satélite, no primeiro mandato de Adônis. Segundo ele, o projeto inicial era fazer uma ponte de mão dupla, com bate estacas, mas quando a prefeitura foi realizar a construção, o modelo adotado foi o de gabiões, que nada tem a ver com o projeto inicial. “Eu fui o primeiro a denunciar formalmente na Câmara a construção da ponte e, na época, ela foi até embargada. Por ter sido feita de gabiões, hoje a estrutura está apresentando diversas rachaduras e cedendo as encostas”, disse. Outra reclamação do advogado é a respeito do estreitamento do rio, que com as últimas enchentes ficou completamente assoreado em determinados locais. “A água está custando a passar e qualquer chuva vai significar alagamento na certa”, critica.
Rogério dos Santos denuncia ainda a “aprovação para a construção de um condomínio em um local de várzea”, que ocupa o curso do ribeirão Serra Azul. “É muito suspeita a aprovação desse projeto, praticamente dentro do leito de um curso d`água. Posso dizer que quando as chuvas atingiram o local, o construtor simplesmente aterrou o trecho e continuou as obras. Depois, a prefeitura aprovou a obra que tem imóveis financiados pela Caixa Econômica, mas as últimas enchentes geraram inúmeras perdas”, revelou.
“A população não pode arcar com os inúmeros prejuízos, simplesmente por ingerência e irresponsabilidade do prefeito. Um documento encaminhado por nós à Câmara, pede a reconstrução da ponte, a limpeza e o desassoreamento do ribeirão anualmente e medidas para mitigar os estrados e prejuízos aos moradores do Condomínio próximo ao ferro velho”, finaliza.
“Não existe um projeto para recuperar a cidade”
Outro integrante da comissão de moradores, afirma que a única coisa que o prefeito fez após as chuvas foi pedir a liberação do FGTS na Caixa Econômica Federal, que já é um direito adquirido e assegurado pelo Governo Federal. ”Não adianta o prefeito vir com essa conversa de que não tem recursos para arrumar a cidade. E digo mais, muito menos encenar que esteve em Brasília, tentando angariar recursos, pois os mesmos só são liberados mediante projetos. O que ele fez foi simplesmente levar um pedaço de papel pedindo. Ele não tem projeto para a cidade”, disse o morador de Varginha.
“O prefeito parece aqueles meninos birrentos. Se você concorda com ele, você é amigo; se discorda é inimigo ferrenho. Ele administra só para quem o apoia, é aquele velho jargão: lobo em pele de cordeiro. Além disso, usa a religião o tempo todo para se colocar de uma forma, sendo que na prática, ele não se preocupa com quem foi atingido e está sofrendo em decorrência das últimas enchentes. Até hoje não foi feito nada de definitivo”, diz advogado
Adônis responde à Câmara
Há 15 dias os moradores da região de Varginha protocolaram o Legislativo um documento solicitando que a prefeitura elaborasse e colocasse em prática, medidas emergenciais de socorro aos atingidos pelas enchentes de janeiro. Dentre os pedidos, estava a isenção de impostos municipais, verba auxílio, liberação do saque FGTS, suspensão da cobrança de dívidas da União/ Estado e Município, isenção de cobrança de contas da CEMIG e COPASA e integração do município em uma ação conjunta pedindo indenização à mineradora Vale.
A respeito do pedido dos moradores de isenção de impostos municipais, o prefeito informou que está elaborando um Projeto de Lei propondo a isenção do IPTU 2022 aos atingidos pelas enchentes. Já o pagamento de auxílio emergencial foi negado, com a justificativa de que a aplicação do recurso não está prevista na Lei Orçamentária de 2022 e não existem dotações orçamentárias para o pagamento. A solicitação de liberação do saque FGTS foi feita e os trabalhadores do município já estão recebendo.
O prefeito também informou em resposta à Câmara, que o município não tem competência para legislar sobre as cobranças de outros órgãos governamentais e que as isenções de cobranças das contas da CEMIG e COPASA devem ser realizadas diretamente às empresas distribuidoras de água e energia. Quanto a ação indenizatória conjunta, Adônis alegou que tal medida “deve ser proposta pelo próprio Ministério Público, juntamente com o Estado de Minas Gerais, não sendo o município parte legítima para propor a ação”.
Câmara cobra listagem e relatórios da Defesa Civil
Os atingidos pelas últimas enchentes em Juatuba continuam desamparados pelo poder público, conforme noticiado em reportagem acima. Após muitas críticas e uma onda de revolta da população acerca do tema, o presidente da Câmara, Ted Saliba, pediu à prefeitura, por meio de requerimento, a listagem de todos os atingidos cadastrados na Secretaria de Assistência social, bem como uma cópia de todos os laudos emitidos pela Defesa Civil.
O requerimento, segundo o vereador, é para que o Legislativo possa fiscalizar se a prefeitura cadastrou, notificou e auxiliou todos os atingidos. “Solicitamos essas informações, justamente porque todos os vereadores estão sendo cobrados quanto a um pacote de medidas de auxílio emergencial que nunca chegou ao plenário. Praticamente todos os dias vem uma pessoa na Câmara pedir socorro, dizendo que não foi atendida pela prefeitura, após as enchentes devastadoras”.
“Tive minha casa invadida pela água e agora estou doente e desamparada”
A técnica de enfermagem, Deise Pereira de Lima, de 40 anos, viveu uma tormenta após ter sua casa financiada recentemente invadida pelas águas do Ribeirão Serra Azul. Ela conta que financiou o imóvel pela Caixa, através de um projeto aprovado pela prefeitura, mas que sonho virou um pesadelo. “Eu tive que arrumar dois empregos para fazer o financiamento com muito custo e após as enchentes, estou abalada e em tratamento psicológico. Simplesmente perdi todos meus móveis e agora moro com minha mãe. A única coisa que recebi foi cesta básica, mas como essa situação vai ficar? Ficarei no prejuízo, mesmo sabendo que a construção foi aprovada pela prefeitura?”, questiona.