Na tribuna da câmara, cidadão diz que moradores do Atalaia, Coqueiral, Tiradentes e Paraíso “estão com sede”

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A situação de calamidade dos bairros Atalaia, Coqueiral, Tiradentes e Paraíso se arrasta há 30 anos. Falta água, esgoto, pavimentação e o mínimo de infraestrutura para centenas de famílias que vivem em situação de extrema dificuldade.

Esta semana, da tribuna do Legislativo, o morador do bairro Atalaia, Paulo Márcio, comoveu os vereadores quando relatou situações extremas em que crianças e idosos ficam sem água por quase 30 dias e são obrigados a utilizar e beber água imprópria para o consumo, de uma lagoa na região.

Paulo Márcio destacou que, além da Copasa ter responsabilidade na ausência da distribuição de água e saneamento básico, a prefeitura tem parte da culpa, pois recebe o IPTU integral, sem que os bairros sejam dotados de condições mínimas para que uma família possa viver com dignidade. “A prefeitura tem responsabilidade, pois todo ano o IPTU chega nas nossas residências, e se não efetuarmos o pagamento, nossos bens vão a protesto. E o mais cruel, é que a região não é calçada, as vias não têm passeios, meio fio, saneamento básico, distribuição de água e falta até energia elétrica”, relatou.

Paulo ainda atribuiu a inércia da administração ao fato de um servidor da prefeitura ser advogado de uma das imobiliárias responsável pelo loteamento na região. Ao ser indagado pelos vereadores qual o nome do servidor para que fosse feita uma investigação, Paulo disse que retornaria com a informação “com as provas em mãos”.

Cerco se fecha para COPASA

Comovidos com o depoimento, os vereadores resolveram dar um ultimato à COPASA e, após duras críticas à autarquia e lembrarem que a arrecadação do município é de cerca de R$200 milhões, disseram que a situação não pode continuar e que é uma injustiça que bairros sem qualquer infraestrutura, saneamento básico e água encanada, paguem a mesma taxa de IPTU que outras regiões da cidade que são bem assistidas pelos serviços públicos.

Os vereadores lembraram a CPI realizada no ano passado, quando ficou determinado que a Copasa deveria completar a rede de distribuição na região e até hoje a companhia não iniciou as obras. A Comissão Parlamentar de Inquérito concluiu que a autarquia deveria destinar caminhões pipa com água para as comunidades desabastecidas, até que a situação se normalizasse.

Os vereadores concordaram com a realização de uma reunião emergencial com o prefeito, os responsáveis pela Copasa e se possível até com o governador, que foi eleito pela maioria dos votos no município com o objetivo de dar uma solução definitiva para o problema da região.

“Caminhão pipa novo para jogar água fora”

O vereador Wellington Batata questionou o líder do prefeito, José Ronaldo sobre a utilização do novo caminhão pipa que a prefeitura recebeu recentemente. José Ronaldo não soube responder a indagação, no entanto, o vereador Lúcio Madureira respondeu que obteve informações que o caminhão pipa novo está sendo utilizado para carregar água suja para molhar as estradas de terra da zona rural.

“Eu acho isso um absurdo; um caminhão novo jogar água de lagoa em rua, enquanto a população está passando falta de água”, criticou Lúcio. Batata prometeu investigar o fato e solicitar a utilização correta do caminhão.

A informação de que o contrato com os caminhões pipas teria sido suspenso no final de 2022 também será averiguada pela Câmara.

Construção de dois poços artesianos na região

O vereador Lúcio Madureira argumentou que caso o encontro com a Copasa não traga solução para o problema de desabastecimento dos bairros, ele vai destinar os recursos de uma emenda do deputado Gustavo Valadares para a construção de dois poços artesianos, um no bairro Tiradentes e outro no Paraíso.

“Infelizmente a população está sofrendo com a falta de água e só não passou mais trabalho, por causa das chuvas. Precisamos também ter atenção à situação precária das estradas, pois os caminhões pipa não sobem muitas ruas dos bairros”, revela Lúcio. 

Na justiça

A questão da falta de infraestrutura e saneamento básico em Mateus Leme é tão urgente que, em 2020, o ex-prefeito Júlio Fares entrou na justiça contra as empresas responsáveis por loteamentos de 25 bairros da cidade que foram vendidos sem quaisquer benfeitorias. As últimas ações protocoladas pelo ex-prefeito foram referentes aos bairros Atalaia, Tiradentes, Coqueiral, Jardim Serra Azul, Estrela do Sul e Santa Cruz.

Inicialmente, a Prefeitura abriu processo administrativo contra as empresas, que foram convocadas para regularizar a situação das obras necessárias nos loteamentos, mas diante do não comparecimento e da negativa das construtoras em negociar, foram ajuizadas ações e algumas decisões da Justiça determinaram o bloqueio dos bens das mesmas. Após Dr. Renilton Coelho assumir a prefeitura, o assunto não foi mais discutido.