Sem respostas para os problemas da Saúde, secretário enfrenta sabatina na Câmara

Bruno Diniz foi convocado após intensas críticas e reclamações da população com relação a falta de médicos, medicamentos e até luvas cirúrgicas

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Nas eleições de 2020, 276 dos mais de cinco mil prefeitos eleitos declararam à Justiça Eleitoral que tinham a medicina como profissão e, teoricamente, a formação deveria contribuir positivamente para o progresso da saúde no município. No entanto, as constantes reclamações durante as reuniões ordinárias da Câmara de Mateus Leme, mostram justamente o contrário.

Depois que Dr. Renilton assumiu a administração, problemas sérios na saúde de Mateus Leme vêm sendo denunciados, dentre eles a falta de medicamentos, materiais hospitalares, atendimento médico e até luvas cirúrgicas. E foram as constantes reclamações da população que levaram os vereadores a convidar o novo secretário de Saúde, Bruno Diniz, para prestar esclarecimentos.

Dr. Aldair abriu a sabatina questionando sobre a divulgação de um protocolo referente ao retorno às aulas presenciais no município: “esse protocolo foi feito sem ouvir a Comissão de Enfrentamento à Covid da Câmara e gostaria de saber se ele realmente existe, indagou. Em resposta, o secretário afirmou que o protocolo ainda está sendo elaborado e que ele teria sido iniciado pelo ex-secretário, José Carlos Serufo. Bruno Diniz assumiu o compromisso com os parlamentares de encaminhar o protocolo à Câmara para que haja participação da Comissão.

Atendimento na UPA

Outra questão abordada pelos parlamentares foi referente à morosidade no atendimento da UPA, fato que o recém nomeado secretário de saúde reconheceu, destacando que o problema “é devido à dificuldade em conseguir vagas em hospitais especializados para tratar problemas de saúde que demandam internação”.

Sem apresentar uma solução para o problema, Bruno disse que a UPA mantém dois médicos durante o dia e um profissional à noite e que vai promover na unidade de saúde uma sequência nos casos em observação do mesmo médico, “pois o paciente tem que ter um acompanhamento constante, baseado em apenas uma conduta médica”, disse.

Falta de medicamentos

O líder do prefeito, vereador José Ronaldo, pediu que o secretário falasse sobre a constante falta de medicamentos no município e, mais uma vez, o secretário foi lacônico e, sem apresentar uma resposta para o problema, afirmou que a administração está buscando adquirir os medicamentos através de um consórcio, para gerar economia para o município. “O consórcio compra um milhão de medicamentos e uma prefeitura apenas mil. Quem compra mais barato?”, indagou Bruno, tentando explicar a falta de medicamentos que tem sido vivenciada pela população nos últimos tempos. “Ao ver o cenário de desabastecimento, buscamos três caminhos: por meio do estado, de um consórcio de municípios e a terceira via, por licitação. Creio que a situação vai se normalizar no próximo semestre”, prometeu.

A vereadora Adelaide Siqueira, tentou ajudar o secretário em sua justificativa, pedindo que ele explicasse aos vereadores como são feitos os processos licitatórios. “Eu queria que você explicasse como é feito esse processo, porque muita gente acha que é só tirar o dinheiro do bolso e pagar”, disse a vereadora de forma irônica.

E em mais uma tentativa de justificar a falta de vários medicamentos em Mateus Leme, Bruno atribuiu o problema ao “sistema falho” dos processos licitatórios do Brasil. “Todo processo não sai com menos de 90 ou 120 dias”, disse.

Apesar da tentativa de justificar o desabastecimento da farmácia do município e das unidades de saúde à burocracia, o secretário e a vereadora foram confrontados pelo vereador Dr. Aldair que afirmou que em Mateus Leme, nos últimos sete meses, não houve nenhum procedimento licitatório e nem a publicação de edital para a compra de medicamentos. “Todos os processos licitatórios ou foram por dispensa, inelegibilidade ou registro de preço, que é um procedimento rápido. O que eu fico triste é que na nossa cidade se transformou em exceção à regra, pois essas modalidades são exceção. Não tem um procedimento no município que dá chances a várias empresas de participarem. Já foi comprado milhões em remédios, só por adesão a ata de registro de preços“, criticou.

Indignação

 “Só quero deixar aqui um pedido. Eu não aguento mais chegar nas unidades de saúde e não ter remédio. Não quero saber a forma que serão adquiridos; só peço que não falte mais medicamentos para a população. O que falta é planejamento e não podemos permitir isso”, cobrou a vereadora Irene de Oliveira.

E ao questionar o vereador José Ronaldo se ele tinha conhecimento da falta de medicamentos na unidade do Vale dos Araçás, onde o parlamentar obteve expressiva votação, Irene provocou o colega que se exaltou, batendo na mesa e não deixando que a vereadora continuasse sua fala. Após alguns minutos, os ânimos se acalmarem e a vereadora reiniciou os questionamentos ao secretário.

“Por que de tanto carro novo”,

Os questionamentos ao novo secretário de saúde não apresentaram surpresa quando feitos pelos vereadores da base do prefeito. Com perguntas estudadas, os parlamentares da situação provocaram apenas o discurso pronto do secretário. Foi o que aconteceu quando a vereadora Adelaide perguntou sobre a locação de veículos pela prefeitura, cerca de 26, que não estão sendo utilizados pela saúde. Bruno explicou que foram locadas três ambulâncias de grande porte para a Saúde e, quanto aos veículos menores, o aluguel foi para fazer o transporte de 900 pessoas, em consultas externas a outros municípios e até a outros estados. A locação de veículos novos, segundo ele, “promove mais segurança no transporte”.

“Telefone não atende”

Mais do que uma sabatina, a reunião serviu para que os vereadores, pudessem expor todas as fragilidades do sistema de saúde do município e voltassem a reclamar da falta de respostas do executivo aos diversos pedidos de informações, muitos deles na área da saúde. Pretinho do Hospital lembrou que já fez diversos requerimentos e reclamou que o telefone da Secretaria não atende. O parlamentar chegou a exibir um áudio de uma cidadã reclamando sobre a falta de atendimento. “A gente liga para lá, fica horas e horas e ninguém atende. Até as unidades de saúde têm dificuldade de falar na secretaria. Tento falar com o secretário, ninguém vê e ninguém conhece. Eu não consigo marcar um encontro com ele. Isso é um absurdo e um descaso com a saúde”, desabafou a cidadã no áudio.

Bruno Diniz assumiu o problema, afirmando que já havia identificado a demanda. “Vamos instalar uma central telefônica na secretaria e já chamei a atenção dos profissionais. Teremos uma pessoa atendendo todas as ligações, pois isso é realmente uma falta de respeito com a população e nós servidores”, concordou o secretário.

Mundo da fantasia

“Parece que eu estou vivendo em um outro mundo, não é real o que o senhor está falando”. Esse foi o desabafo da vereadora Irene de Oliveira, ao dizer que o secretário estava falando de situações que não condizem com a realidade de Mateus Leme. Se dirigindo à vereadora Adelaide Siqueira, Irene disse que várias situações já foram relatadas no legislativo como a demora ou até mesmo falta de atendimento de veículos à população. “Não adianta ter uma frota nova e completa que não atende efetivamente à população. Existem muitas falhas nesse processo”. Já com relação as ambulâncias, Irene pontuou que é um absurdo que os veículos estejam em outras cidades como Itatiaiuçu e Itaúna, quando a população precisa. “Emergência não espera. Se a prefeitura não tem condições de contratar uma ambulância que esteja à disposição no nosso município, eu entendo que essa contratação não está sendo viável. A falta ou atraso nos atendimentos, precisam ser encaminhados ao Ministério Público”.

E foi com a mesma firmeza das argumentações e posicionamentos anteriores que Irene perguntou ao secretário se ele reside no município e se a secretaria tem plantão aos finais de semana. Bruno Diniz disse que não mora em Mateus Leme, mas que o “secretário adjunto tem autonomia para resolver qualquer problema da secretaria”. Já com relação ao atendimento, ele afirmou que “não existe 24h na secretaria, apenas nos locais de urgência e emergência”.

Quem é o novo secretário

A nomeação de Bruno Diniz repercutiu de forma polêmica na cidade e com uma “chuva” de críticas que dominaram as redes sociais.  Ex-secretário de Saúde de Contagem em 2018, ele foi alvo de uma operação da Divisão Especializada em Investigação de Fraudes (DEIF), que investigava possíveis fraudes na distribuição de medicamentos pela Secretaria de Saúde de Contagem. 

Após a investigação, quase todos os integrantes do setor foram transferidos ou exonerados, dentre eles Bruno Diniz. A operação aconteceu no dia 9 de março de 2018 quando uma equipe da Polícia Civil foi até a Central de Abastecimento Farmacêutico da Prefeitura apurar denúncia de que produtos e materiais cirúrgicos estavam sendo adquiridos de forma irregular, dispensando critérios e protocolos.

Ainda segundo a denúncia, as mercadorias eram fornecidas por uma empresa que não estava oficialmente contratada pela Prefeitura de Contagem e os produtos eram entregues com notas superfaturadas, e a diferença entre os valores seria repartida entre o empresário dono da empresa fornecedora e o, então secretário municipal de Saúde, Bruno Diniz Pinto. O denúncia foi arquivada por falta de provas.

Secretário de Saúde enfrenta sabatina na Câmara Municipal. Imagem: CMMateusLeme

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