Sete perguntas para o atleta Lucas “Xaropinho”, medalhista no Jiu Jitsu e Kickboxing

0
6257

Nascido em Mateus Leme, e criado na região Central conhecida como Vila, Lucas Kenner Almeida da Silva, 31 anos, é filho de Vanderlei Passos da Silva e Nilda Lemos Silva. É casado e pai de uma filha de onze anos. Xaropinho é atleta profissional de MMA, categoria peso mosca, até 57kg e detém faixa roxa de jiu jitsu e verde de Kickboxing.

O esportista divide os treinos entre as cidades de Mateus Leme e Contagem: a parte de chão do jiu jitsu, em Mateus Leme, na Sena Fight Team. Já a parte de trocação, do Kickboxing e MMA, ele se exercita em Contagem, na Dichoff System. Além de atleta, Xaropinho é barbeiro e pintor de autopeças.

1-Quando você começou a praticar a modalidade com o propósito de competir? Você imaginava um futuro como profissional?

Foi em 2016, já com 25 anos, sem muita pretensão, algo mais pessoal, uma forma de propor a mim um desafio e manter o espírito competitivo que sempre me acompanhou mesmo em outras modalidades antes das artes marciais. Com a experiência das competições de Muay Thai e a conquista de um título Mineiro e um Brasileiro, na mesma modalidade, comecei a despertar mais seriedade e o olhar de pessoas mais renomadas no meio da luta. E mesmo só com uma luta amadora no MMA, em novembro de 2016, fiz minha estreia no torneio profissional em Montes Claros. Por ter conhecido e iniciado já um pouco mais velho, não pude ter muita experiência como amador e fui logo para o profissional, onde iniciei com vitória. Daí, meus olhos brilharam e vi que poderia ir ainda mais longe.

2- Quem mais incentivou sua carreira e o que mais te inspira?

Sempre tive um apoio muito grade de todos da família, além deles o de amigos próximos, em especial o hoje faixa preta de Jiu Jitsu, Henrique Senna, que me apresentou ao esporte e é um dos meus treinadores. Ele sempre me acompanha, torce e me incentiva desde o início. Também não posso me esquecer do meu mestre Wagner Dichoff, que faz um trabalho incrível comigo, tanto físico quanto mental. A evolução me inspira muito. Não só nas lutas, mas fora também, tudo que envolve a arte marcial me inspira, para que eu me torne um atleta e um ser humano melhor. Resumindo, minha inspiração é me tornar um samurai dos tempos modernos, servindo a minha comunidade e ajudando de alguma forma na evolução de pessoas. A evolução acontece a cada luta e com o pensamento de como será a próxima para que eu possa corrigir os erros.

3-Quais os principais desafios de quem pratica esporte no Brasil e numa cidade do interior?

O Brasil é um ótimo país no quesito apoiar campeões consolidados, mas difícil em apoiar atletas em início de carreira. Muitas vezes, o apoio vem quando o atleta já nem precisa mais ou precisa menos do que no início. Com isso, temos a perda de vários talentos no meio esportivo e promessas tendo que abrir mão de um sonho devido as dificuldades. Muitos, acabam trilhando um outro caminho. Temos por exemplo, vários campeões mundiais disfarçados em outras funções, simplesmente porque não tiveram oportunidade ou não tiveram apoio no início. E numa cidade do interior, com recursos menores e mentes fechadas no poder, isso se torna mais difícil ainda. Principalmente quando se trata de modalidades que não seja o futebol, que por tradição tem um apoio maior.

4- Sobre a última competição disputada, como surgiu essa oportunidade e qual colocação você obteve?

No último domingo, (27) participei do Jungle Fight, que é o maior evento de MMA da América Latina. A oportunidade surgiu através da nossa trajetória no esporte e do status que já conquistamos em Minas Gerais. O próprio dono do evento, Wallid Ismail, me ligou oferecendo a oportunidade. Fato curioso foi que minha luta acabou sendo cancelada devido a uma lesão do meu primeiro adversário. Minha esposa Alexia que teve a ideia de fazer a mobilização nas redes sociais relacionadas ao evento e conseguimos uma segunda luta, desta vez contra um adversário de São Paulo, chamado Igor. Iniciei a luta muito bem, mas no decorrer do round fomos ao chão e acabei perdendo por uma finalização. Mas mesmo com a derrota, tivemos uma vitória fora dela. O apoio do público e a repercussão na cidade foi algo maravilhoso. A cidade inteira parou para ligar a tv, acompanhar, torcer e vibrar. Podemos até comparar com a final de Copa do Mundo, devido a repercussão. Esse carinho e reconhecimento do público é também um grande combustível.

5- Qual o estilo de luta que você prefere?  O que é mais difícil na trajetória esportiva?

Mesmo já tendo vitórias por finalização no jiu jitsu e sendo faixa roxa, eu fico mais confortável na luta em pé, o Kickboxing, modalidade que sou faixa verde. Na “trocação”, fico mais à vontade e aproveito bem a “mão pesada”, pois mesmo para uma categoria leve, que é de 57 Kg, tenho um soco muito potente, que ajuda a encontrar o caminho da vitória. Uma das minhas maiores dificuldades é o desdobramento entre o esporte e a vida profissional, ou seja, ter de ser várias pessoas ao mesmo tempo. Trabalho em dois lugares, na indústria automotiva como pintor de peças, que é um serviço braçal e de movimentos repetitivos e também no negócio da família, na barbearia do meu pai. Entre as duas profissões, encaixo os treinos e as competições.

Os dois trabalhos paralelos são justamente para poder me manter no esporte, uma vez que o mesmo ainda não traz recursos financeiros para que eu possa viver. É uma rotina bem puxada, com muita abdicação, abrindo mão de muitas coisas na vida. Lazer, luxos e comodidade para seguir um sonho e um chamado. Sou pai de família, tenho uma filha de onze anos, sou casado e moro de aluguel. Resumindo, sou chefe da casa, pai e atleta. Vale lembrar que banco todos os custos da carreira esportiva, como passagens, treinos, dietas, suplementação exames, inscrições, filiações, equipamentos e graduações, tudo isso com meus trabalhos paralelos e a luta. Sou um atleta de alto nível numa modalidade de alta performance e a rotina é exaustiva e puxada. Trabalho cerca de oito a dez horas por dia e treino de três a quatro horas. Com muita luta, sangue, suor e com um pouco de descanso, seguimos firme, batendo de frente com atletas que têm mais recursos e o principal: tempo e apoio para se dedicar mais ao esporte.

6- Você tem apoio do poder público, principalmente para disputar competições?  E quanto ao recente caso compartilhado por inúmeras pessoas, que diz respeito ao uso de sua imagem por políticos, o que tem a dizer?

Apoio do poder público é algo que infelizmente nunca pude contar, nem para treinos e nem para competições. Nos períodos de competições, conto com a ajuda da iniciativa privada, algumas lojas e empresas. Eles me ajudam em forma de patrocínio, mas apenas no mês da competição, o que já é uma grande ajuda. Para custear as participações nas competições eu conto apenas com o suor do meu trabalho, ao contrário do que muitos pensam, estar na TV não torna mais rentável o evento ou a luta. Estar na TV, não significa estar rico ou viver somente do esporte.

Recentemente, em minha última luta, tiveram posts publicados por pessoas relacionadas à política da nossa cidade. Isso deu a entender que eu estava contando com algum apoio público, para poder estar naquele evento como atleta. O que eu fiz foi esclarecer para todos e tirar a dúvida da população, que mesmo levando comigo o nome da cidade, a nível internacional e em lugares de grande expressão como os três maiores canais esportivos do país, eu não conto com nenhum apoio público ou político. Sem citar nomes ou ofender qualquer um que seja, expus a verdade. Deixo claro que não é um problema somente desta gestão pois ajuda ou apoio do poder público é algo que eu nunca pude contar.

7-Quais seus planos futuros?

Retornar ao caminho das vitórias, aumentar a expressão e reconhecimento em território nacional e realizar sonhos, como o de lutar no exterior, em grades eventos. Poder contar com mais recursos e apoios para levar um propósito ao máximo de pessoas possíveis. Transformar e formar seres humanos melhores, através do esporte é uma grande ferramenta de inclusão social. Também tenho um grande sonho, que é facilitar o acesso a um estilo de vida saudável para as crianças de nossa comunidade, e que o poder público e a iniciativa privada possam oferecer a oportunidade para que crianças possam mudar de vida. O esporte, com certeza, vai transformar o mundo delas em um lugar melhor.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

catorze − 2 =