Entenda todos os detalhes da disputa pela fábrica da Heineken em Juatuba e Mateus Leme

Campanha da prefeitura de Mateus Leme dizendo que a cidade tem “a melhor água do Brasil” é criticada por população; Associação Amigos da Serra do Elefante questiona possível concessão à empresa

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Depois que a cervejaria Heineken decidiu que não vai mais instalar uma nova fábrica em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a disputa de vários municípios para receber o empreendimento já envolve Divinópolis, Itaúna e agora, Juatuba e Mateus Leme.

Assim que o diretor de assuntos corporativos do grupo no Brasil, Mauro Homem, anunciou a decisão de não ir para Pedro Leopoldo, mas manter o negócio em Minas Gerais com previsão de construção da fábrica já no início de 2022, o presidente da Câmara, Ted Saliba, oficializou junto a lideranças políticas da região, o desejo de receber o empreendimento no município.

Ted afirmou à reportagem que acionou o deputado de seu partido, que já intermediou o pedido junto ao Chefe de Gabinete do governador Romeu Zema, alegando os fatores socioeconômicos que credenciam Juatuba a sediar sede da fábrica. “Acredito que será um grande investimento para o município que inicialmente pode gerar mais de dois mil empregos, além de movimentar a economia da região. Nós estamos preparados para receber a empresa”, pontuou.

Mateus Leme também “entrou na briga”

Poucos minutos depois da publicação da reportagem sobre o interesse de Juatuba em atrair a cervejaria, a Prefeitura de Mateus Leme lançou nas redes sociais oficiais a campanha “Mateus Leme tem a melhor água do Brasil” e informou que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Socioeconômico e Cultura fez contato direto com os gestores da empresa formalizando também o interesse de Mateus de ser sede da fábrica. Na publicação, o prefeito Dr. Renilton ressalta que existe uma grande “expectativa para que mais esse empreendimento venha se instalar em Mateus Leme”.

AASE questiona possível concessão à empresa

Na mesma publicação feita pela prefeitura, houve quem contestasse a afirmação de que “Mateus Leme tem a melhor água do Brasil”, devido aos intensos problemas com a qualidade da água captada e distribuída pela Copasa no município: “só mente no fator melhor água, não temos água nem para a própria sobrevivência”, disse uma internauta.

Outra contestação foi feita pela Associação Amigos da Serra do Elefante (AASE), que atua em defesa da preservação ambiental. “Tecnicamente nem o Estado deu conta de administrar a questão em Pedro Leopoldo. Os movimentos sociais e ambientais se manifestaram e a empresa saiu de “boazinha” arredando pé do projeto. Melhor água, mas é suficiente? Qual a vazão liberada para o Paraopeba no IGAM? De onde viria esta água”, questionou o post.

A entidade ainda pontuou que a estratégia da empresa é muito boa, com relação a ficar procurando um lugar para se estabelecer. “Muita esmola, santo deve desconfiar”, alertou. Outra crítica da Associação foi referente ao Plano Diretor de Mateus Leme que ainda não foi revisto e que teria que ser prioridade antes de licenciar uma empresa desse porte”, concluiu.

Informações apuradas pelo Jornal de Juatuba e Mateus Leme apontam que um dos critérios avaliados pera a instalação da empresa, é a quantidade de habitantes, que deveria ser superior a 100 mil. A Justificativa deixou Juatuba e Mateus Leme praticamente fora do páreo. 

Entenda porque a empresa desistiu de construir em Pedro Leopoldo

A construção da fábrica da Heineken em Pedro Leopoldo foi anunciada em dezembro de 2020 e comemorada pelo governo de Minas, diante da perspectiva de um investimento de R$ 1,8 bilhão no Estado.  A empresa formalizou o pedido de licenciamento ao governo mineiro em junho deste ano, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), e recebeu autorização para iniciar as obras dois meses depois.

A decisão de Cervejaria de não construir a unidade em Pedro Leopoldo ocorreu após um imbróglio envolvendo o empreendimento, que foi embargado na Justiça pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade. O Ministério Público de Minas Gerais também abriu inquérito civil público para apurar a situação.

A principal preocupação do MP é com o sistema hidrológico da região. Além disso, o órgão alega temor em relação a impactos negativos e poluidores do sítio arqueológico. Bem próximo do local em que seria construída a fábrica foi descoberto o crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo das Américas. O MP, inclusive, chegou a recomendar a suspensão da licença.

Já o Instituto Chico Mendes avaliou que as informações apresentadas pela Heineken foram insuficientes e que a obra pode ter potencial de impacto ambiental, por isso aguarda novos dados da empresa. No último mês, o Ministério Público também abriu inquérito civil para apurar possíveis impactos ao patrimônio cultural da região com a instalação da fábrica.

A empresa diz que a construção em Pedro Leopoldo só faria sentido se contasse com o apoio de toda a sociedade, incluindo agentes que contribuem para o desenvolvimento socioambiental da região. “A decisão foi tomada após poucos meses de diálogo sobre os diferentes entendimentos de órgãos envolvidos e da sociedade em geral, relacionados à proximidade do atual terreno com uma importante área de preservação ambiental e arqueológica da região. O respeito e o cuidado com as pessoas e com o meio ambiente direcionam nossas decisões”, diz a nota da Heineken.

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