SETE PERGUNTAS PARA: Frei Ismail, da Paróquia de São Sebastião em Juatuba

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A série Sete Perguntas esta semana traz o Frei Ismail de Miranda, responsável pela Paróquia de São Sebastião de Juatuba. A pandemia trouxe uma nova realidade para as igrejas e comunidades, por isso, foi preciso adaptar ritos seculares e envolver a tecnologia nas celebrações. Frei Ismail nasceu em Virginópolis, no leste de Minas. Decidiu ser padre aos 16 anos, quando foi estudar em Barbacena com os padres Salesianos. Retornando à Belo Horizonte, estudou Filosofia na PUC-Minas, no mesmo período conheceu os Franciscanos Capuchinhos e decidiu ser frade. Foi ordenado padre há seis anos e há quase um ano está em Juatuba.

1. Frei Ismail, a pandemia mudou muito a forma como encaramos diferentes frentes da nossa vida, entre elas o exercício da fé. O senhor acha que as famílias devem aproveitar este tempo de isolamento para fortalecer a vivencia da fé em família? Como eles podem fazer isso em casa?

Eu acredito que a pandemia mudou a forma de encararmos e não seremos mais os mesmos. A pandemia vai deixar em nós vários traços. Então, é importante as famílias cultivarem a espiritualidade, apesar de que as pessoas, na minha visão, estão abaladas psicologicamente e têm cultivado pouco esse lado. Nós procuramos incentivar nas pessoas a importância de fazer suas orações, porque é essencial até para nossa saúde psicológica. Entender que o isolamento social não é o afastamento de pessoas e de tudo, às vezes eu estou distante das pessoas na dimensão física, mas é preciso estar próximo, ainda mais quando vivemos essa realidade dos meios de comunicação que facilitam muita a nossa proximidade. É muito importante que as famílias tirem um tempo para estarem juntas, aqueles que estão na mesma casa, para um cuidar do outro, ouvir, conversar, partilhar a vida e conviver mais.

2. Já estamos no quinto mês alternando entre períodos de maior e menor distanciamento. Durante esse tempo, a igreja já investiu nas transmissões de celebrações a distância e agora se adequa para gradativamente receber a comunidade nos templos novamente. Quais as principais mudanças vocês têm feito nos ritos da celebração? Foi preciso alguma adaptação do momento da Eucaristia, por exemplo? E na rotina da equipe paroquial, alguém precisou ser afastado?

Durante esse tempo, nós procuramos estar próximos das pessoas através dos meios de comunicação. Nós transmitimos as nossas celebrações pelo Instagram, Facebook e Youtube, temos um número de pessoas que nos acompanham e a paróquia continua seu trabalho. Na medida do possível, os funcionários continuam trabalhando, seguindo as orientações de saúde, do decreto municipal. Dentro da dimensão litúrgica da celebração eucarística, nós temos algumas orientações: 30% de ocupação da igreja, demarcarmos os bancos com espaço onde as pessoas podem ter segurança, os nossos ambientes sempre estão ventilados, as pessoas são recebidas nos espaços litúrgicos com álcool e termômetro para aferir a temperatura. Os atendimentos, para nós freis, aumentaram, muitas pessoas nos procuram pedindo orações, bênçãos, e temos tentando atender a todos.

3. As transmissões das missas pelas redes sociais proporcionaram uma visão nova para os católicos de local onde é possível se ter contato com a religião. O senhor acha que esse relacionamento virtual com a comunidade deve ser mantido pela pandemia? Pessoalmente, qual foi o momento mais difícil para o senhor durante esse período?

Acredito que o momento mais difícil, que ainda não acabou porque estamos dentro da pandemia, é percebermos que as pessoas às vezes precisam de um contato maior, muita gente já não está bem psicologicamente e acaba vivendo sozinho. Na dimensão religiosa, tem a dificuldade de ter acesso as pessoas, por exemplo, nós levamos comunhão para as pessoas enfermas que nos solicitam, nós temos na paróquia mais de 100 ministros que fazem esse trabalho, temos mais de 300 assistidos, pessoas que visitamos por semana, e não está sendo possível mais visitar essas pessoas. Então está sendo um momento difícil. A gente reza a distância, acredita que a oração nos mantém unidos, é o momento difícil não estar junto. Os meios de comunicação nos permitem chegar as pessoas, mas nem todos tem acesso ou também não tem o hábito de acessar, aí vamos construindo isso aos poucos, com muito trabalhado chegamos a mil inscritos no YouTube, temos uma participação que está melhorando pelo Facebook e Instagram.

4. Por coincidência, o período de isolamento pela pandemia prejudicou a realização de festas de santos muito populares entre as comunidades, como Santo Antônio, São João e São Cristóvão. Para que os fiéis não ficassem sem os eventos, as paróquias aderiram a procissões em carro aberto com as imagens. O senhor sente que a comunidade tem sofrido com a falta desses eventos? O novo formato de procissão foi bem recebido? Teve boa participação dos moradores da região?

Realmente, temos sentido falta das nossas festividades, ainda mais neste tempo de festa junina, comidas típicas, fizeram falta sim, sempre alguém comenta. Tentamos adaptar com as procissões em carro aberto, a gente fez várias durante a Semana Santa, com o Santíssimo pelas ruas, coisas nesse sentido para oferecer segurança para as pessoas, para elas se sentirem visitadas, contempladas, sentirem que não estão sozinhas. E as pessoas sentem falta. Dentro desse novo formato, vamos vivenciando o quanto é possível, tivemos boa participação. Nós tivemos aqui nos eventos em Juatuba uma coleta de alimentos que são transformados em cestas e encaminhados a famílias carentes com ajuda de uma equipe da paróquia.

5. Os católicos têm duas celebrações muito importantes durante a vida, o batismo, que é a iniciação da criança na vida religiosa, e o matrimônio. Essas celebrações estão sendo realizadas ou precisaram ser adiadas? Caso estejam acontecendo, qual protocolo foi adotado para garantir a segurança dos participantes?

Os batizados estão acontecendo com número menor de participantes, tomando os devidos cuidados, sempre aferindo temperatura, usando álcool, e estamos tentando nos organizar para atender a todas as pessoas que nos procuram. Nós temos matrimônios agendados, estamos aguardando uma orientação do comitê de enfrentamento do município de como iremos proceder na celebração do casamento, mas os batizados nós estamos realizando, eles continuam nessa dimensão de atender as pessoas enquanto igreja, oferecendo suporte para a espiritualidade.

6. Além das celebrações e eventos como casamentos, a Paróquia de São Sebastião também é responsável por ações sociais de apoio a comunidade, como o varal solidário. Tem sido possível realizar essas ações? Como vocês tem feito? Alguma nova dificuldade está sendo encontrada nesses momentos?

Dentro das ações, o varal solidário tem se destacado. Ele foi organizado por um grupo mais ligado a renovação carismática que tem nos ajudado. As doações que nós recebemos eles encaminham. Então o varal solidário aconteceu em vários lugares, em Francelinos, Eldorado, no bairro Diamantina, Cidade Nova, Icaraí, São Jerônimo, onde temos comunidades. É uma alternativa que a gente encontrou de agilizar a distribuição daquilo que recebemos. Esses dias mesmo ganhamos de Belo Horizonte nove berços, então sempre chega essas doações assim, aí entramos em contato com as comunidades e encaminhamos para quem precisa. Os berços chegaram na paróquia e em três dias todos já tinham sido encaminhados.

7.Na sua opinião, quais as principais reflexões e ensinamentos os fiéis poderão colher quando a pandemia acabar?

Conversando com um infectologista, ele dizia que algumas coisas, talvez, para a nossa geração vão ficar, por exemplo, o uso de máscara. Se você está gripado, é importante você usar máscara e em alguns países isso já é hábito. Você se protege e não passa para o outro. Então, tem umas ações que ficarão para o nosso bem-estar. E os fiéis, eu acredito que fique essa dimensão de confiança, de saber que não estamos sós, dimensão da espiritualidade. Deus nos fortalece e ilumina, não foi Ele que criou o vírus ou desejou a pandemia para a humanidade, mas Ele está junto da humanidade para nos fortalecer, nos ajudar a superar esse momento de dificuldade. Então esperamos que fique a sabedoria, esse momento de aprendizado e a fortaleza na fé.

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