Setembro Amarelo reafirma necessidade de deixar de lado o tabu e falar sobre o suicídio

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Esse mês inteiro foi específico para propagar a ideia do Setembro Amarelo, que traz à tona a necessidade de ajudar e voltar os olhos para a saúde mental e prevenir o suicídio. Mas infelizmente, o que se viu em Juatuba e Mateus Leme, foram poucas manifestações dos órgãos públicos a respeito do tema. 

Por isso, nessa edição, a última do mês, o Jornal de Juatuba e Mateus Leme conversou com psicóloga e professora, Cristiane Nogueira, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais. Na opinião dela, o número de suicídios nos dois municípios é grande, como é grande em outras cidades, pois na maioria, há um mito e uma narrativa de que em determinado lugar o índice de suicídios é maior que em outros. Para Cristiane, é preciso desconstruir a ideia de que Juatuba e Mateus Leme é de determinada forma, quando o assunto é suicídio. “Devemos sempre considerar que este é um problema de saúde pública, pandêmico, inclusive, e que deve ser enfrentado com a seriedade que o tema pede”, salientou. 

A profissional afirma que quando se trata de suicídio, é preciso ter como referência os números oficiais e epidemiológicos, porém esses são apresentados somente com atraso de dois anos. “Então, não há dados de 2021, até porque o ano está em curso, o que torna ainda mais difícil estabelecer comparativos com outros anos”, diz. 

A mídia deveria seguir a cartilha da OMS

Ao destacar a necessidade do serviço prestado pela rede pública às pessoas cuidadas por tentativa de suicídio e seus familiares, Cristiane Nogueira destaca alguns erros quando a abordagem é feita em nível nacional. “Não existe no Brasil uma política verdadeira para a prevenção do suicídio. Não temos investimento federal, nem estadual e, por isso, todas as iniciativas são de nível municipal. Além disso, vemos por parte do governo federal um ataque e sucateamento das políticas públicas de saúde mental construídas no Brasil ao longo dos anos, sem que houvesse a criação de novos dispositivos para o enfrentamento da questão do suicídio. Isso enfraquece o que já existe. É um tema muito complicado, principalmente porque no Brasil não conseguimos cumprir a meta de reduzir o número de ocorrências e, em 2020, os números aumentaram. Este é um desafio de saúde pública que para ser enfrentado precisa do envolvimento de todos os setores da sociedade”, ponderou. 

Com relação ao papel da mídia, ela entende que os veículos de comunicação, em geral, precisam levar o assunto mais a sério. “Na imprensa não se fala do assunto com a justificativa de que o tema é um tabu. Mas também não se qualifica a forma de falar, desconsiderando a existência de uma cartilha da Organização Mundial da Saúde que instrui a forma de como a mídia deve abordar o assunto. Acho que essa qualificação é urgente e precisa ser feita, inclusive nos dois municípios”, avalia. 

Agir com seriedade, sem politicagem

Cristiane Nogueira disse ser lamentável que, às vezes, uma temática tão complexa seja discutida “de forma leviana e politiqueira”. Cristiane lembra que há uma completa desinformação quando se fala em ‘Setembro Amarelo’, campanha que não foi instituída com o propósito de ofertar tratamento, mas com a proposta de prevenção universal. “A ideia é levar informações e orientação para a população como um todo, desconstruir mitos em torno do suicídio, mas também acerca de problemas da saúde mental. Então, Setembro Amarelo é uma campanha e questões de políticas públicas, que sejam para a juventude ou para outros públicos, não são afins à campanha que é uma iniciativa para tratar o que é relativo à prevenção e à valorização da vida”, esclareceu. 

Problema sendo cuidado o ano inteiro

A profissional destaca que questões de sofrimentos mentais precisam ser pauta constante das autoridades de saúde e que municípios, como Juatuba e Mateus Leme, não podem descuidar e correr o risco de que esses temas sejam abordados somente no mês de setembro. “É necessário qualificar as ações e entender que precisamos trabalhar a prevenção ao suicídio de setembro a setembro, porque as pessoas não sofrem depressão somente nesse mês. É preciso discutir, trazer a temática, criar espaços de fala durante todo o ano, nos mais diversos lugares e nos inúmeros espaços”, salientou.

Prevenção e apoio a famílias enlutadas

Cristiane insiste que o suicídio deve estar na pauta da saúde pública durante todo o ano, mas que é necessário que haja um mês dedicado ao tema para que a prevenção seja discutida de forma mais contundente. Se não fosse assim, talvez não haveria espaços para falar. O tema tem que ser disponibilizado em toda a sociedade para que as pessoas se sintam confortáveis para falar de sua dor, dos seus problemas e para buscar ajuda profissional se precisarem. “Existem muitos tabus em torno das doenças mentais, além de muito preconceito. Precisamos enfrentar isso, desconstruir essa narrativa para que as pessoas possam falar e serem ouvidas. Juatuba e Mateus Leme deve ofertar treinamentos e capacitação de forma contínua para os profissionais de toda a rede, criando fluxos de atendimentos e parcerias. Além disso, deve ser trabalhado também a posvenção, que é o trabalho com as famílias enlutadas pela questão do suicídio”, afirmou. 

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